sábado, 27 de setembro de 2008

O entorno do conjunto Feliz Lusitânia

Passada quase uma década do incêndio que destruiu parcialmente o prédio onde funcionava a loja Bechara Mattar, o esqueleto do prédio ainda continua de pé e inacabado.

Acreditava-se que as outrora ruínas do edifício seriam demolidas e o espaço aproveitado para alguma coisa que favorecesse a integridade e a harmonia de um recanto reputado por Mário de Andrade como o mais belo do país.

A construção do edifício de 5 andares, sem nenhum valor arquitetônico, se deu num período em que a consciência quanto à preservação deste patrimônio era incipiente, o que nos custou perdas irreparáveis.

Li em algum lugar que a prefeitura iria desapropriá-lo e pô-lo abaixo, mas, ao contrário, atualmente o prédio está sendo recuperado pelo proprietário, indicando que deve brevemente voltar a vender brinquedos e fogos de artifício, como o pequeno anexo, que aleijou o térreo da um casarão vizinho ao solar do Barão do Guajará, sede do Instituto Histórico e Geográfico Paraense.

O prédio do Bechara Mattar não é o único espécime do maltratado centro histórico belenense – vide o espigão do Banco Central em meio aos casarões do Boulevard Castilhos França -, mas pelas dimensões e pela localização, em pleno núcleo original da cidade, cercado por um raro conjunto remanescente contínuo, composto de algumas das nossas mais preciosas jóias arquitetônicas, merece uma atenção especial.

O quarteirão é uma mácula ao cenário que os colonizadores ergueram evocando as cidades portuguesas.

Na época em que a loja Bechara Mattar soterrou o que havia naquela esquina para construir o desastroso edifício, talvez não existissem consciência nem instrumentos legais para impedi-la. O proprietário, portanto, tem seus direitos adquiridos.

Mas se por um lado, em relação à lei vigente, não há como retroagir no direito de intervir negativamente naquele sítio histórico, me pergunto por que, por outro, na se pensou num meio de impedir que, uma vez desativado, o prédio, com aquelas características arquitetônicas em desacordo com a vizinhança, não voltasse a ser utilizado?

Existe pelo menos uma imagem que nos permite visão bastante nítida do casario que compunha aquela quadra nas primeiras décadas do século XX. Reprodução desta fotografia pode ser vista no salão do restaurante Estação Gourmet.

Aparentemente, boa parte seria o prolongamento do prédio vizinho ao IHGP já citado.

Outro seria idêntico ao belo casarão azulejado, solitário sobrevivente do quarteirão.

Cabe agora ao poder público acertar essa conta com a história. Se não há como reconstituir inteiramente o cenário que encantou Mário de Andrade, pode empenhar-se em minimizar os danos à beleza que, todavia, resiste.

2 comentários:

Alexandre Souza disse...

Ola Mauro,
Gostei muito de seu post. Estou fazendo uma pesquisa sobre o histórico do prédio Bechara Mattar e suas informações serão de grande ajuda. Peço-lhe que caso você saiba informações ou fontes que possa consultar a historia acerca desse assunto contate-me Alexandre(ca_alex14@hotmail.com).

Domingos Oliveira disse...

Parabéns pela postagem.
É lamentável as agressões que nossa cidade continua a sofrer.