sábado, 21 de março de 2009

Belém, capital do mundo (reportagem publicada na revista Viagem, da Editora Abril)

Calma. É do mundo da gastronomia. Eis um roteiro para entender como a cidade paraense se tornou um fenômeno internacional por causa de sua comida única
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Belém, a gente sabe, é um destino cativo no mapa turístico nacional. Você já ouviu falar de lugares como a Estação das Docas, o Museu Emílio Goeldi, o Teatro da Paz. Sem contar o monumental Círio de Nazaré, festa religiosa que atrai 2 milhões de fiéis. Mas Belém ganhou um novo status, que vai muito além de sua condição de porta de entrada da Amazônia. Hoje é uma das capitais gastronômicas... do mundo (sim, você leu certo). A cozinha belenense é uma atração à parte e vale um roteiro também à parte. Alguns famosos se encarregaram de emprestar notoriedade à causa. O cozinheiro-estrela Alex Atala é um deles. Dono do badaladíssimo restaurante D.O.M., em São Paulo, Alex não só visita a região regularmente como a apresentou aos intergaláticos chefs espanhóis Ferran Adrià e Juan Mari Arzak.

Essa sofisticação vem de longe. No século 17, padre Antônio Vieira já atestava que a mesa belenense de sua época era um banquete sem igual de peixes moqueados, caças e frutas da estação apreciadas pelos colonizadores portugueses. A Belém gastronômica é um interessante caldeirão de misturas étnicas. A comida indígena paraense - única verdadeiramente brasileira, segundo o filósofo José Arthur Gianotti - tem sabores africanos, portugueses, alemães, japoneses, libaneses, sírios, judeus, ingleses, barbadianos, espanhóis, franceses e italianos. Os povos que chegaram a Belém se encantaram com a cozinha nativa e, aos poucos, foram incorporando ingredientes locais às receitas de além-mar.

Os judeus marroquinos ficaram maravilhados com a quantidade de peixes com escamas do Rio Guamá. Por certo, riscaram do cardápio o filé de filhote (peixe de couro, popularíssimo na região) por causa de suas restrições alimentares, mas em Santarém celebravam a Páscoa com macaxeira frita ou cozida, cuscuz, tapioquinha, bolo de tapioca e pupunha com doce de cupuaçu. Libaneses e sírios formam até hoje uma importante colônia e, pouco depois de surgirem rio adentro, no fim do século 19, como mascates fluviais nas páginas de um romance de Milton Hatoum, trocaram o pistache e a tâmara pela castanha-do-pará na receita de seus famosos doces folhados.

Africanos remanescentes dos quilombos popularizaram o gergelim nos doces e as múltiplas pimentas (murupi, camapu, olho-de-peixe, cajurana). A maniçoba que me foi servida pelas cuidadosas mãos do Alcides no melhor restaurante da cidade, o Lá em Casa (Rua Dom Pedro I, 546, 91/3242-4222; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V), do chef Paulo Martins, é um exemplo defi nitivo do casamento perfeito entre as raízes das cozinhas indígena e africana. Os índios, óbvio, são mestres ancestrais no preparo de mandioca, caldeiradas, peixes (piranha, pirarucu, surubim, tucunaré, tambaqui), folhas (maniva, chicória, alfavaca) e frutas (bacuri, ingá, guaraná, açaí, ginja, biriba - que dão deliciosos sorvetes). No Restô do Parque (Avenida Magalhães Barata, 830, 91/3229-8000; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V), algumas dessas receitas regionais são servidas no bufê. Já no Boteco das Onze (Praça Frei Caetano Brandão, 91/3224-8599; Cc: D, M, V; Cd: M, R, V), elas podem ser saboreadas num clima intimista de luz baixa e música suave. E, na Sorveteria Cairu (são dez unidades na cidade, mas as principais ficam na Travessa 14 de Março, 1570, 91/3242-2749, na Travessa Dom Romualdo de Seixas, 1139, 91/3241-1602, e no Boulevard Castilhos França, Estação das Docas, 91/3212-5595), você encontra os melhores sabores - açaí e tapioca são os mais vendidos.

Os ingleses chegaram durante o próspero ciclo da borracha, trazendo construções pré-fabricadas que viraram cartão-postal, como o Mercado Ver-o-Peso (nos arredores do antigo Mercado de Ferro, montado junto ao cais, ficam as barracas de peixes e frutos do mar, que abrem das 6h às 14h; e a feira, aberta o dia todo, que vende frutas, raízes aromáticas, temperos, ervas e artesanato). Sua vocação culinária, sabemos, nunca foi lá essas coisas, mas, em compensação, os caribenhos de Barbados por eles empregados na construção civil legaram um interessante churrasco de peixe, o avoado. Por falar em peixe, Belém tem a segunda maior colônia nipônica do país, e o sashimi, servido em bons restaurantes na cidade, é preparado com as espécies da região. Um dos melhores é o Hatobá (Boulevard Castilhos França, Estação das Docas, 91/3212-3143; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V).

São comuns nas docerias de Belém a torta de cupuaçu com queijo-do-reino (lá conhecido como queijo cuia) e o pastel de santa clara com recheio da mesma fruta, duas adaptações saborosas das clássicas sobremesas portuguesas. A Abelhuda (Avenida Gentil Bittencourt, 2125, 3249-6670; Cc: A, M, V; Cd: M, V) faz a melhor torta de cupuaçu com queijo cuia da cidade (eles chamam de casquinha por ser apenas uma massa lateral bem fina recheada com o creme).

O professor Aldrin Moura de Figueiredo, do departamento de história da Universidade Federal do Pará, lembra que, no fim do século 19, os belenenses endinheirados ofereciam a políticos e autoridades banquetes comandados por chefs franceses. Eram festins permanentes de peixes, caças e frutas da estação com cobertura de mimosidades chiques. Bem aos moldes de uma certa cozinha moderna, que agora parece ter reinventado a roda, para deleite dos paladares cosmopolitas.


Africanos remanescentes dos quilombos popularizaram o gergelim nos doces e as múltiplas pimentas (murupi, camapu, olho-de-peixe, cajurana). A maniçoba que me foi servida pelas cuidadosas mãos do Alcides no melhor restaurante da cidade, o Lá em Casa (Rua Dom Pedro I, 546, 91/3242-4222; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V), do chef Paulo Martins, é um exemplo defi nitivo do casamento perfeito entre as raízes das cozinhas indígena e africana. Os índios, óbvio, são mestres ancestrais no preparo de mandioca, caldeiradas, peixes (piranha, pirarucu, surubim, tucunaré, tambaqui), folhas (maniva, chicória, alfavaca) e frutas (bacuri, ingá, guaraná, açaí, ginja, biriba - que dão deliciosos sorvetes). No Restô do Parque (Avenida Magalhães Barata, 830, 91/3229-8000; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V), algumas dessas receitas regionais são servidas no bufê. Já no Boteco das Onze (Praça Frei Caetano Brandão, 91/3224-8599; Cc: D, M, V; Cd: M, R, V), elas podem ser saboreadas num clima intimista de luz baixa e música suave. E, na Sorveteria Cairu (são dez unidades na cidade, mas as principais ficam na Travessa 14 de Março, 1570, 91/3242-2749, na Travessa Dom Romualdo de Seixas, 1139, 91/3241-1602, e no Boulevard Castilhos França, Estação das Docas, 91/3212-5595), você encontra os melhores sabores - açaí e tapioca são os mais vendidos.

Os ingleses chegaram durante o próspero ciclo da borracha, trazendo construções pré-fabricadas que viraram cartão-postal, como o Mercado Ver-o-Peso (nos arredores do antigo Mercado de Ferro, montado junto ao cais, ficam as barracas de peixes e frutos do mar, que abrem das 6h às 14h; e a feira, aberta o dia todo, que vende frutas, raízes aromáticas, temperos, ervas e artesanato). Sua vocação culinária, sabemos, nunca foi lá essas coisas, mas, em compensação, os caribenhos de Barbados por eles empregados na construção civil legaram um interessante churrasco de peixe, o avoado. Por falar em peixe, Belém tem a segunda maior colônia nipônica do país, e o sashimi, servido em bons restaurantes na cidade, é preparado com as espécies da região. Um dos melhores é o Hatobá (Boulevard Castilhos França, Estação das Docas, 91/3212-3143; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V).

São comuns nas docerias de Belém a torta de cupuaçu com queijo-do-reino (lá conhecido como queijo cuia) e o pastel de santa clara com recheio da mesma fruta, duas adaptações saborosas das clássicas sobremesas portuguesas. A Abelhuda (Avenida Gentil Bittencourt, 2125, 3249-6670; Cc: A, M, V; Cd: M, V) faz a melhor torta de cupuaçu com queijo cuia da cidade (eles chamam de casquinha por ser apenas uma massa lateral bem fina recheada com o creme).

O professor Aldrin Moura de Figueiredo, do departamento de história da Universidade Federal do Pará, lembra que, no fim do século 19, os belenenses endinheirados ofereciam a políticos e autoridades banquetes comandados por chefs franceses. Eram festins permanentes de peixes, caças e frutas da estação com cobertura de mimosidades chiques. Bem aos moldes de uma certa cozinha moderna, que agora parece ter reinventado a roda, para deleite dos paladares cosmopolitas.

Por: Edward Pimenta | Foto: Marcelo Soares

Publicado em 03/2009

Onde o rio faz a curva

Por Isabel Gnaccarini, especial para a Envolverde




Projeto Rios Voadores confirma o impacto da floresta amazônica no regime de chuvas do continente.

O engenheiro e explorador ambiental Gérard Moss acaba de concluir uma importante etapa do projeto Rios Voadores. Após 12 viagens com um avião monomotor atrás de massas de ar, os resultados das primeiras análises do vapor d’água coletado confirmam um estudo feito há 30 anos pelo agrônomo Enéas Salati no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/ Esalq) do campus de Piracicaba da Universidade de São Paulo - o impacto da floresta amazônica no regime de chuvas das Regiões Sudeste e Sul.

Moss apresentou na última quarta-feira (18/03) o balanço do projeto iniciado em abril de 2007. Durante dois anos, ele acompanhou o trajeto das correntes de ar que circulam na Amazônia, e investigou os itinerários do vapor d´água evaporada na região. Na ocasião, o explorador mostrou detalhes da principal viagem por Rios Voadores - realizada entre 4 e 11 de fevereiro do ano passado, seu hidroavião saiu de Belém, passando por Santarém, Manaus, Porto Velho, Alta Floresta, Cuiabá, Uberlândia, Londrina, Ribeirão Preto com destino à Piracicaba.

Um “rio voador”, que percorre os céus da Amazônia de leste à oeste, e chega a São Paulo depois de fazer a curva na Cordilheira dos Andes, pode ter a vazão de todos os rios do Centro-Oeste, Sudeste e Sul, ou seja, de cerca de 200.000 m3 de água por segundo.

Os resultados da pesquisa que analisou cerca de 500 amostras da água coletada em diferentes altitudes está sob coordenação científica de Enéas Salati. O pesquisador usou a técnica isotópica, e conhecimentos meteorológicos, para demonstrar que determinados isótopos de hidrogênio (deutério) e oxigênio (O18) presentes nas moléculas de água servem como "assinatura" do percurso realizado pelo vapor de água, comprovando sua origem na Amazônia.

O líquido analisado no CENA em Piracicaba é uma base de dados também acompanhada pelo professor Pedro Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Segundo ele, é importante lembrar que há outras variáveis no estudo, pois existem fluxos de vapor d’água provenientes de outras regiões - especialmente do Atlântico – que exercem um papel fundamental no regime de chuvas.

Além disso, nem toda a água que sai da Amazônia transforma-se em chuva no sul do continente. “Apenas 50% do total do fluxo de vapor d’água que entra pela floresta amazônica na altura de Belém está disponível para cair como chuva. Este fluxo é composto pelo vapor primário, que vem do oceano, e pela evaporação e transpiração das plantas”, explica o professor Salati.

Pedro Dias afirma que ainda é difícil prever os efeitos do desmatamento no regime de chuvas, mas eles podem incluir tanto secas quanto enchentes em outros Estados.

O projeto Rios Voadores recebe patrocínio de R$ 2,5 milhões da Petrobrás, além do apoio de cientistas de diversas instituições de pesquisa do País.

Mais informações nos sites http://www.riosvoadores.com.br e http://www.brasildasaguas.com.br



Veja animação deste fenômeno climático em http://www.riosvoadores.com.br/animacao.htm" target="_blank">http://www.riosvoadores.com.br/animacao.htm

Alguém sabe quanto de lixo Belém recicla?

Em Curitiba, lixo reciclável chega a 600 toneladas por dia

Por Lúcia Nórcio, da Agência Brasil




Brasília - A população de Curitiba, estimada em aproximadamente 1,8 milhão de habitantes, produz diariamente 2,4 mil toneladas de lixo. Desse total, 1,8 mil toneladas vão para o aterro sanitário da Caximba, na região metropolitana da capital. O restante é coleta seletiva, lixo reciclável, recolhido pelos caminhões da prefeitura municipal, dentro do programa Lixo que não é Lixo.

Segundo o coordenador do Departamento de Projetos do Instituto Lixo e Cidadania, Sérgio Roberto Faria, são os catadores de materiais recicláveis os responsáveis pela maior parte da coleta do lixo colocado nas portas das residências. “Cerca de 92% do que é separado são eles que coletam. O programa municipal foi novidade quando lançado em 1989, hoje é deficitário”, afirmou. O instituto é responsável por 53 arranjos coletivos em Curitiba, na região metropolitana e em municípios da área de Foz do Iguaçu.

De acordo com Sérgio Faria, atualmente em Curitiba e região metropolitana há cerca de 15 mil catadores. “Eles conseguem uma renda média de R$ 450,00. Mas a crise financeira está reduzindo bastante este ganho. Caiu o preço pago pelo metal; o papelão, que no ano passado era vendido por R$ 0,23, atualmente os catadores que não estão organizados em associações ou cooperativas chegam a receber apenas R$ 0,1% de atravessadores. A garrafa PET caiu de R$ 0,90 para R$ 0,50”, disse.

Em sua opinião, o que pode melhorar a renda desse trabalhador são políticas públicas. Ele citou como exemplo o decreto assinado no início deste ano pelo governador Roberto Requião que destina todo o material reciclável gerado pelos órgãos públicos estaduais, autarquias, empresas públicas, fundações e sociedades de economia mista às associações e cooperativas de catadores.

O projeto paranaense foi inspirado no do governo federal, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que destina às cooperativas de catadores o material reciclável das repartições públicas. A população paranaense produz 20 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 40% podem ser reciclados.

A prefeitura municipal contribui para a geração de renda com o projeto Parques de Reciclagem Ecocidadão. “A idéia é construir 25 parques, mas até agora só temos quatro”, disse o coordenador do Departamento de Projetos do Instituto Lixo e Cidadania. No projeto, o material coletado é pesado individualmente e fica registrado na ficha de cada coletor. O dinheiro é rateado entre os associados toda sexta-feira.

A prefeitura mantém também o programa Compra do Lixo, em áreas de difícil acesso para os caminhões de coleta. A população faz a coleta em sacos plásticos e deposita numa caçamba. De um a quatro sacos vale uma sacola com um tipo de produto no valor de R$ 0,53. Quem deposita cinco sacos recebe uma sacola que equivale a cinco vezes R$ 0,53, contendo arroz, feijão, mel, batata, cenoura, cebola, alho e doce. A Associação de Moradores recebe 10% do valor pago por cada saco de lixo para aplicar em obras ou serviços definidos pela própria comunidade.

Tem ainda o Câmbio Verde, que troca lixo reciclável por hortigranjeiros. Cada 4 quilos de lixo vale 1 quilo de frutas e verduras. Pode ser trocado também óleo vegetal e animal: 2 litros de óleo valem 1 quilo de alimento. Recentemente, a prefeitura adotou o programa Lixo Tóxico. Pilhas, baterias, toner, tintas, embalagens de inseticidas, remédios vencidos, lâmpadas fluorescentes óleo animal e vegetal embalados em garrafa pet podem ser depositados em caminhões estacionados em terminais de ônibus.

O secretário municipal do Meio Ambiente, José Antonio Andreguetto, destacou que Curitiba sempre serviu de modelo por suas inovações em relação ao tratamento dos resíduos sólidos. “Para não perder essa vanguarda, daremos mais um passo que irá mudar a história do tratamento de lixo no Brasil. Vamos parar de enterrar lixo em aterro sanitário e passar a aproveitar os resíduos como fonte de matéria-prima, emprego e renda”, afirmou referindo-se ao Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos, que deverá ser implantado até o fim deste ano.



(Envolverde/Agência Brasil)

terça-feira, 17 de março de 2009

Música dançante das boas - Dreamgirls, trilha sonora do filme de mesmo nome

É urgente rever os fundamentos

Por Leonardo Boff*




A conjugação das várias crises, algumas conjunturais e outras sistêmicas, obriga a todos a trabalhar em duas frentes: uma intrasistêmica buscando soluções imediatas dos problemas para salvar vidas, garantir o trabalho e a produção e evitar o colapso. Outra transsistêmica, fazendo uma crítica rigorosa aos fundamentos teóricos que nos levaram ao atual caos e trabalhar sobre outros fundamentos que propiciem uma alternativa que permita, num outro nivel, a continuidade do projeto planetário humano.

Cada época histórica precisa de um mito que congregue pessoas, galvanize forças e confira novo rumo à história. O mito fundador da modernidade reside na razão, desde os gregos, o eixo estruturador da sociedade. Ela cria a ciência, transforma-a em técnica de intervenção na natureza e se propõe dominar todas as suas forças. Para isso, segundo Francis Bacon, o fundador de método científico, deve-se torturar a natureza até que entregue todos os seus segredos. Essa razão crê num progresso ilimitado e cria uma sociedade que se quer autônoma, de ordem e progresso. A razão suscitava a pretensão de tudo prever, tudo gerir, tudo controlar, tudo organizar e tudo criar. Ela ocupou todos os espaços. Enviou ao limbo outras formas de conhecimento.

Eis que, depois de mais de trezentos anos de exaltação da razão, assistimos a loucura da razão. Pois só uma razão enlouquecida organiza a sociedade na qual 20% da população mundial detém 80% de toda riqueza da Terra; as três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 paises mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 indivíduos sozinhos acumulam mais riqueza do que 2,8 bilhões de pessoas, o equivalente a 45% da humanidade; no Brasil 5 mil famílias detém 46% da riqueza nacional. A insanidade da razão produtivista e consumista gerou o aquecimento global que trará desiquilíbrios já visíveis e a dizimação de milhares de espécies, inclusive a humana.

A ditadura da razão criou a sociedade da mercadoria com sua cultura típica, um certo modo de viver, de produzir, de consumir, de fazer ciência, de educar, de ensinar e de moldar as subjetividades coletivas. Estas devem se afinar à sua dinâmica e valores, procurando sempre maximalizar os ganhos, mediante a mercantilização de tudo. Ora, essa cultura, dita moderna, capitalista, burguesa, ocidental e hoje globalizada entrou em crise. Ela se expressa nas várias crises atuais que são todas expressão de uma única crise, a dos fundamentos. Não se trata de abdicar da razão, mas de combater sua arrogância (hybris) e de criticar seu estreitamento na capacidade de comprender. O que a razão mais precisa neste momento é de ser urgentemente completada pela razão sensível (M.Maffesoli), pela inteligência emocional (D.Goleman), pela razão cordial (A. Cortina), pela educação dos sentidos (J.F.Duarte Jr), pela ciência com consciência (E. Morin), pela inteligência espiritual (D. Zohar), pelo concern (R.Winnicott) e pelo cuidado como eu mesmo venho propondo há tempos.

É o sentir profundo (pathos) que nos faz escutar o grito da Terra e o clamor canino de milhões de famélicos. Não é a razão fria mas a razão sensível que move as pessoas para tira-las da cruz e faze-las viver. Por isso, é urgente submeter à crítica o modelo de ciência dominante, impugnar radicalmente as aplicações que se fazem dela mais em função do lucro do que da vida, desmascarar o modelo de desenvolvimento atual que é insustentável por ser altamente depredador e injusto.

A sensibilidade, a cordialidade, o cuidado levados a todo os níveis, para com a natureza, nas relações sociais e na vida cotidiana, podem fundar, junto com a razão, uma utopia que podemos tocar com as mãos porque imediatamente praticável. Estes são os fundamentos do nascente paradigma civilizatório que nos dá vida e esperança.

Águas acima, águas abaixo, todos estamos conectados

Por Doraldina Zeledón Úbeda*




As atividades que se realizam águas acima indiscutivelmente afetam o que está águas abaixo, não apenas a água, mas tudo que abarca a bacia hidrográfica: a água superficial e subterrânea, o solo, as plantas, os animais, o ar, os seres humanos.

Como funcionam as bacias hidrográficas e seu manejo é o tema do Dia Mundial das Zonas Úmidas de 2009, em 2 de fevereiro, data em que se comemora a adoção da Convenção Internacional de Zonas Úmidas, realizada em 1971, na cidade de Ramsar.

As zonas úmidas são áreas superficiais que dependem da água, como os pântanos, manguezais, zonas ribeiras e costas, ilhas, extensões marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os seis metros. Suas funções são captar, armazenar e purificar a água, e recarregar os aquíferos subterrâneos; a produção pesqueira e apoio à diversidade biológica.

O lema é “Águas acima águas abaixo, as zonas úmidas nos conectam todos”. Ele expressa o que temos visto, vivido e provocado, talvez sem ser conscientes do problema: as atividades que se realizam águas acima indiscutivelmente afetam o que está águas abaixo. Não apenas a água, mas tudo o que abarca a bacia hidrográfica: a água supercial e subterrânea, o solo, as plantas, os animais, o ar, os seres humanos. Por que as zonas úmidas são parte das bacias hídricas e estão interconectados entre si.

Uma bacia hidrográfica é uma superfície irrigada por um rio e seus afluentes, lagos, reservatórios e pântanos conectados a ele, incluindo aqüíferos subterrâneos, “é como uma gigantesca banheira que recolhe toda a água que cai em suas laterais e envia toda a chuva que cai sobre a terra de seus arredores a um rio central e logo ao mar”, diz a Convenção Ramsar. Por exemplo, a Bacia 69, do Rio São Juan de Nicarágua, que abarca vários rios e os lagos.

Se observamos as atividades que se realizam, por exemplo em um rio ou em suas margens, podemos compreender como estamos interconectados por meio da bacia e como afetam as diferentes atividades, pelo que é necessário desenvolver o sentimento de pertencimento e amor a essa bacia, inclusive conhecê-la, para que nos motivemos a cuidá-la; já que dependemos dela, como dependemos do sangue e oxigênio que irrigam nosso corpo.

Se um rio é usado para dar água ao gado, quem vive rio abaixo receberá a água contaminada. As águas residuais que se descarregue nele, os agrotóxicos, os resíduos sólidos, afetam todo o sistema. Mas não é só a contaminação, também o uso do recurso. Se na parte de cima se extrai água para irrigação, ou se constroem represas, diminuirá o caudal na parte de baixo.

Além da contaminação o uso da água, estão outras atividades que afetam às zonas úmidas: desmatamento, urbanização, pavimentação. Por tudo isso se necessita a planificação não só do uso dos recursos hídricos, mas de todas as atividades de cada bacia.

Poderíamos argumentar que não utilizamos tanta água. De maneira direta pode ser, mas indiretamente somos consumidores, de diferentes formas: se comemos carne, estamos consumindo água; o mesmo no café, hortaliças, frutas, peixes; tudo que consumimos necessita água. A construção de nossas casas requer água, para a mescla do cimento ou barro, para a fábrica de tijolos. Se são de madeira, as árvores necessitam de água para crescer. A fabricação de nossa vestimenta, necessita água. Também a precisamos para atividades recreativas. Às vezes nosso trabalho depende dela, que fariam os construtores sem água? Ou os produtores de café ou criadores de gado? Nos escritórios necessitamos de água para a limpeza. Como poderíamos fazer pão sem água? Ou nos deleitarmos com a beleza de uma flor ou a dança de um colibri se não houvesse água para o jardim?

Também podemos pensar que nem todos a contaminamos. É certo que contaminam mais as indústrias, o gado, a agricultura, o turismo. Mas por acaso não somos usuários desses serviços? Estamos dispostos a ficarmos sem trabalho se fecham uma indústria que contamina? Tampouco é permitir. O trabalho é incidir, ajudar a que não se contamine e não se use indiscriminadamente. Daí a necessidade de identificarmos uma bacia hídrica e participar para protegê-la.

Além disso, também contaminamos desde nossa casa, com detergentes, cloro, azeites, resíduos sólidos. Vertendo a água da chuva na rede de esgotos. Ou jogando o lixo na rua, que logo é arrastada para as correntes. Tudo isto vai parar numa fonte de água, e como estão interconectadas, afeta a toda a bacia.

Isto não implica deixar de utilizar a água, mas fazê-lo racionalmente e incidir para que se criem e apliquem políticas de gestão para os diferentes usos das bacias, incluídas as transfronteiriças. Por isto, o caso da mina em Las Crucitas, Costa Rica, deve preocuparnos, pois afeta a bacia do Rio San Juan.

É interessante a mensagem da Comissão Ramsar: “TODOS vivemos em uma bacia hidrográfica. Esta faz parte de nosso endereço postal: rua, número, cidade, província e bacia!” Então, é preciso começar por identificarmos a nossa bacia e nos interessarmos por sua gestão.

* Doraldina Zeledón Úbeda, Monseñor Lezcano, Manágua, Bacia 69, Nicarágua. doraldinazu@gmail.com. Tradução de Ulisses A. Nenê para a EcoAgência.

Água: Escassez afetará metade do planeta

Por Thalif Deen, da IPS




Nova York – A Organização das Nações Unidas alertou que mais da metade da população mundial – mais de três bilhões de pessoas – sofrerá escassez de água em 2025. Se as atuais tendências continuarem, incluindo as secas, o aumento populacional, a crescente urbanização, a mudança climática, a proliferação indiscriminada do lixo e a má administração dos recursos, o mundo se dirigirá para uma catástrofe. Estes novos problemas estarão na agenda de uma importante conferência internacional, o Quinto Fórum Mundial da Água, que acontecerá em Istambul, Turquia, entre 16 e 22 deste mês.

Entrevistado pela IPS, o diretor-geral do Conselho Mundial da Água (CMA), Ger Bergkamp, que organiza o encontro em Istambul, disse que enquanto a população do planeta triplicou no século XX, o uso de recursos renováveis de água cresceu seis vezes. “Nos próximos 50 anos, a população mundial crescerá 40% ou 50%. Este aumento populacional, somado à industrialização e à urbanização, provocará uma demanda maior de água e terá sérias consequências para o meio ambiente”, afirmou.

IPS- A ONU alertou que mais de um bilhão de pessoas ainda sofrem escassez de água potável segura. Prevê-se que esta crise será solucionada ou irá piorar na próxima década, particularmente no contexto da mudança climática e de seu impacto negativo?
Ger- Informes de importantes centros de pesquisa e organizações internacionais nos dizem que, se os seres humanos não mudarem seu comportamento, desde hábitos pessoais até os processos industriais e a administração pública, teremos uma crise ainda maior em nossas mãos. Estamos em uma encruzilhada histórica. Temos a capacidade para reverter a tendência e criar uma nova realidade. As soluções estão à mão, como coletar água da chuva, melhorar os sistemas de armazenamento e conservação, aperfeiçoar os métodos de irrigação nos campos e desenvolver cultivos tolerantes às secas.

Estas devem estar acompanhadas de uma governabilidade suficientemente boa para procurar uma melhor administração dos recursos hídricos e conseguir maior acesso aos serviços para mais pessoas. É óbvio que um consumo desenfreado dos recursos naturais, especialmente da água, não pode continuar. Mas, temos de saber como e quais são as ferramentas para mudar as coisas. O que precisamos é de ação. Os governos, as companhias e os grupos da sociedade civil devem aproveitar o momento.

IPS- Deveria a ONU, e em especial o Conselho de Direitos Humanos, procurar um plano duradouro para considerar a água um direito humano básico?
Ger- O consumo mundial de água duplicou tão rápido quanto a população no último século. O aumento da demanda de água é constante quanto há um aumento da população, e multiplicou com a rápida urbanização. Garantir água segura para as pessoas está no coração dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU para o Milênio, fixados pelos 192 membros das Nações Unidas. A meta é reduzir pela metade o número de pessoas que carecem de acesso à água segura. Há três anos, o Quarto Fórum Mundial da Água no México pôs sobre a mesa o direito a este recurso. Os prefeitos, que ocupam a linha de frente político-administrativa para a água e o saneamento, expressaram de forma esmagadora seu apoio ao direito à água.

As declarações no México também mostraram que um grande apoio a essa idéia por parte de parlamentares, empresários, organizações não-governamentais, grupos de mulheres, igrejas e a sociedade civil em geral. Também significou a primeira vez que o direito à água foi discutido por ministros de diversos países em nível internacional. O CMA apresentou no México o Informe sobre o Direito à Água. Esse documento forneceu uma importante ferramenta para as pessoas que tentam desenvolver políticas nacionais. O informe também é uma grande contribuição ao trabalho do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Na nova edição do fórum, em Istambul na próxima semana, o direito à água será novamente tema destacado da agenda. Esperamos ver compromissos sobre este assunto, principalmente de líderes políticos que podem fazer as coisas acontecerem em nível local. Muitos temas precisam ser resolvidos em níveis local e nacional. Para levar serviços de água e saneamento a mais pessoas de forma mais rápida devemos insistir no direito ao recurso. Também temos de redobrar esforços para encontrar soluções sobre as quais trabalhar em qualquer lugar onde se compartilha a água entre fronteiras nacionais. Devem ser feitos esforços bilaterais e multilaterais para encontrar soluções duradouras sobre como compartilhar a água.

IPS- Como os problemas podem ser resolvidos? Que papel pode ter o fórum em alertar o mundo sobre a crise de escassez mundial?
Ger- O fórum é um processo de três anos de diálogo e reflexão que culmina na mais importante reunião mundial sobre a água. São mais de 20 mil participantes, incluindo políticos, cientistas, profissionais e ativistas de todo o mundo. Ao trabalhar com uma ampla gama de atores no fórum, o CMA pode reunir grupos e interesses díspares para encontrar um campo em comum e soluções práticas. Os debates do fórum ajudam a definir o papel estratégico da água para o desenvolvimento, a qualidade de vida e a segurança. O fórum é organizado pela CMA em colaboração com a cidade e o país anfitriões, neste caso Istambul.

O encontro é precedido por um processo preparatório que envolve o que poderíamos chamar de diálogos sobre a água. Entre outras coisas, estes diálogos incorporam contribuintes regionais para tratar desafios específicos em diferentes partes do mundo. A intenção do fórum é fornecer uma plataforma onde seja possível construir sociedades nacionais, regionais e mundiais, os cientistas e cidadãos podem dar novas perspectivas sobre os problemas graves, os políticos e especialistas podem trocar idéias e desenvolver soluções, os líderes mundiais podem assinar acordos e a cobertura jornalística pode dar à água o destaque que merece no cenário internacional.

Um grande número de funcionários eleitos, incluindo, prefeitos, parlamentares, ministros e chefes de Estado, participam do fórum. Isto representa uma oportunidade única para pressionar no sentido de que uma sábia administração da água esteja mais acima na agenda política. Também há uma Conferência Ministerial, em torno da qual o CMA colabora estreitamente com o país anfitrião e a ONU. Em meio à voragem de toda esta atividade, no meu ponto de vista, ainda precisamos manter o olhar em duas simples metas: uma sábia administração dos recursos e o acesso à água e ao saneamento para todos.



(IPS/Envolverde)

5° Fórum Mundial da Água começa nesta segunda-feira

Autoridades e especialistas de todo o mundo se reúnem em Istambul.

O 5° Fórum Mundial da Água acontece em Istambul, na Turquia, desta segunda-feira (16/03) até o próximo domingo, 22/03. Mais de 20 mil pessoas de todo o mundo se reunirão neste, que é o principal evento sobre água no mundo e tem o objetivo de inserir o tema na agenda internacional. “Considerarmos que o 5º Fórum será um sucesso se cada um de nós, os políticos, as empresas, bem como as ONGs, os sindicatos, toda a sociedade civil, participar da troca de idéias, para dialogar e enfatizar soluções concretas para fazer frente aos problemas que perturbam o futuro da água no mundo”, diz Loic Fouchon, presidente do Conselho Mundial da Água.

Um elemento importante para a colaboração global na resolução dos problemas de abastecimento e saneamento da água, o Fórum oferece à comunidade da área e aos responsáveis por políticas e decisões de todo o mundo uma oportunidade única de se reunir e se conectar, debater e buscar soluções para atingir a segurança em temas relacionados à água.

O evento é organizado a cada três anos pelo Conselho Mundial da Água, em colaboração com o país anfitrião. Em sua quinta edição, o Fórum contará com a participação de uma representativa delegação da América Latina, incluindo ministros, parlamentares, autoridades locais e especialistas de todo o continente.

O 5º Fórum Mundial da Água tem um Centro Virtual de Imprensa, que oferece aos jornalistas suporte para a produção de notícias, com sugestões de pauta, indicação de fontes e fotografias para download. O acesso a este espaço pode ser feito pelo link www.watermediacenter.org ou pelo site do Conselho Mundial da Água www.worldwatercouncil.org na seção Media.

Estarão no evento chefes de Estado, ministros, parlamentares e autoridades locais que se encontrarão para sessões individuais e conjuntas, com o objetivo de incentivar a discussão e o consenso em assuntos prioritários relacionados à água. Mais de cem ministros de todo o mundo devem participar do encontro. Três resultados principais são esperados deste encontro: a Declaração Ministerial, um documento conciso, focado nos temas de segurança, adaptabilidade e solidariedade em meio a mudanças globais; o Guia de Istambul de Estratégias para Manejo da Água, um documento mais longo, de referência, esboçando possíveis estratégias para lidar com as mudanças globais que afetam a água; e as sínteses das Mesas-Redondas Ministeriais, com os resultados de oito discussões de alto nível sobre importantes temas relacionados à água. Prefeitos de todo o mundo são esperados para participar e endossar o Consenso de Istambul, um compromisso para disparar uma série de ações para melhorar o acesso à água e ao saneamento, entre outros desafios. Entre as cidades que já endossaram o Consenso de Istambul estão Buenos Aires, na Argentina, e Guayaquil, no Equador.

Cem sessões temáticas acontecerão durante toda a semana, cada uma tentando fornecer, num diálogo entre vários setores, uma resposta e um claro entendimento de questões cruciais relacionadas à água, como saneamento, desastres, alimentação e energia, entre outras. Haverá um esforço concentrado para conciliar as agendas de ativistas que querem evitar os efeitos das mudanças climáticas e especialistas em água, mais focados em mitigar os impactos dessas mudanças, incluindo secas, inundações, migrações etc. Um painel de alto nível sobre mudanças climáticas vai reunir as recomendações do Fórum, que serão, depois, levadas às negociações da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ao G-8 e a outras plataformas importantes. Haverá seções para a apresentação de trabalhos realizados em várias regiões do mundo, identificando soluções para os problemas relacionados à água.

Centenas de expositores apresentarão suas atividades e tecnologias na Exposição Mundial da Água e na Feira Mundial da Água. Atividades de treinamento serão oferecidas para crianças e adultos no Centro de Aprendizado e na Vila Mundial de Educação sobre a Água. Espaços abertos e oportunidades de contatos e trocas de experiência serão oferecidos para permitir a aproximação entre os participantes.

Será lançado um novo relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do Conselho Mundial da Água, com sugestões sobre financiamento para água. Um painel vai mergulhar no desafio de fornecer água para todos no meio da turbulência econômica global.

O novo Relatório sobre Desenvolvimento Mundial da Água das Nações Unidas, divulgado a cada três anos, durante o Fórum Mundial da Água, será lançado no dia 16 de Março. O documento é uma revisão ampla da edição anterior e dá uma visão geral da situação atual dos recursos mundiais de água doce.

O Fórum Mundial da Água (World Water Forum) é o mais importante evento mundial sobre a água. É organizado a cada três anos como um empreendimento conjunto entre o World Water Council e o governo do país anfitrião. As quatro primeiras edições foram realizadas no Marrocos (1997), na Holanda (2000), no Japão (2003) e no México (2006), e o 5º World Water Forum acontecerá em Istambul, Turquia, em março de 2009. Site: http://www.worldwaterforum5.org.

O Conselho Mundial da Água (World Water Council) é uma organização internacional independente, cujo objetivo é promover o manejo sustentável da água em todo o mundo. Possui mais de 300 organizações filiadas, incluindo governos, organizações não-governamentais, empresas, redes de profissionais e instituições de pesquisas baseadas em mais de 50 países. O Conselho Mundial da Água traz à esfera pública informações e conhecimento sobre questões relacionadas à água. Seu trabalho se concentra em despertar atencão e incentivar vontade política para ampliar o acesso à água e ao saneamento e promover o manejo criterioso dos recursos hídricos. A sede do World Water Council fica em Marselha, na França. Site: www.worldwatercouncil.org.

De toda a água na Terra, 97,5% são compostos por água salgada e, dos 2,5% restantes de água doce, cerca de 70% estão congelados nas calotas glaciais polares. Os outros 30% de água doce estão, em sua maior parte, presentes como umidade do solo ou em aquíferos subterrâneos. Para assegurar nossas necessidades básicas, todos precisamos de 20 a 50 litros de água livre de contaminantes nocivos todo dia; 1,1 bilhão de pessoas vivem sem água potável; 2,6 bilhões de pessoas vivem sem saneamento adequado; em áreas mal servidas de água e saneamento, a taxa de mortalidade infantil é 10 a 20 vezes maior que em áreas com em que estes serviços são adequados; e 3.900 crianças morrem todos os dias por doenças transmitidas pela água. Uma criança nascida no mundo desenvolvido consume 30 a 50 vezes mais água que uma criança que vive em países em desenvolvimento; globalmente, a diarréia é a principal causa de doenças e mortes. Suas vítimas somam cerca de 1,8 milhão de pessoas a cada ano. No mundo em desenvolvimento, 70% dos resíduos industriais são despejados sem tratamento e poluem as reservas de água. De 300 a 500 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lixo tóxico e outros resíduos são despejados todo ano pelas indústrias.

Para produzir um quilograma de carne, são necessários algo entre 5.000 e 20.000 litros de água. A quantia total de recursos hídricos usados para produzir um alimento é denominada de “água virtual”. Produzir 1kg de carne requer a mesma quantidade de água usada por uma família de tamanho médio por dez meses (50 litros/pessoa/dia); 50% das zonas úmidas do mundo (como pântanos) desapareceram desde 1900; e aproximadamente 70% de toda água doce disponível é usada para irrigação.

Estima-se que as nações da OCDE precisem investir pelo menos US$ 200 bilhões por ano para substituir sua antiquada infraestrutura de água e garantir o suprimento, reduzir taxas de vazamento e proteger a qualidade da água. Até 2075, o número de pessoas que viverão em regiões com falta crônica de água é estimado em 3 a 7 bilhões. Os dados são divulgados pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Water Partners International(WPI)e Stockholm International Water Institute (SIWI).



(Envolverde/Pauta Social)

Papel higiênico na mira dos ambientalistas

Por Andrea Vialli*




A notícia vem do jornal The Guardian. Quem diria. O uso de papel higiênico “macio e branquinho” pode ser mais danoso ao planeta do que comer fast food ou dirigir Hummers - o utilitário adorado pelos americanos e conhecido por beber galões e mais galões de gasolina.

O veredicto foi dados por ambientalistas americanos, que elegeram o prosaico papel higiênico como o vilão da vez. Isso porque, nos EUA, o papel utilizado para fabricar o toilet paper vem de matas nativas. E mais: os produtos químicos usados no branqueamento do papel também são nocivos ao meio ambiente e causam poluição, alegam.

“Esse é um produto que usamos por menos de três segundos. Mas as consequências ecológicas de sua fabricação são enormes”, diz Allen Hershkowitz, cientista do Natural Resources Defence Council, e ativista da causa.

Nos EUA, 98% dos rolos de papel higiênico são feitos de florestas nativas. Na Europa e América Latina, até 40% do papel do rolo é de origem reciclada. No Brasil, as marcas costumam mesclar o papel de origem reciclada com papel virgem - que vem de florestas de cultivo, é bom frisar.

A campanha dos ambientalistas não tem o intuito direto de pedir às pessoas que deixem de usar papel higiênico por causa das florestas. Dificilmente funcionaria, por razões óbvias. A campanha mira os fabricantes de papel, para que produzam com mais responsabilidade ambiental. De toda forma, o Greenpeace elaborou um “ranking ecólogico dos produtos de higiene pessoal” para orientar o consumidor.

E os leitores, até que ponto abririam mão do conforto por uma causa ecológica?

* Publicado originalmente no blog Sustentabilidade, mantido pela jornalista

segunda-feira, 9 de março de 2009

Existe solução para o transporte público no Brasil?

Existe solução para o transporte público no Brasil?

Por Marcus Quintella*




O transporte público das grandes metrópoles brasileiras, quando comparado a cidades de países desenvolvidos ou mesmo a algumas cidades de países emergentes, apresenta significativas diferenças organizacionais e gerenciais, defasagens tecnológicas e distorções sócio-econômicas.

Vou tomar o exemplo de Barcelona, que possui cerca de seis milhões de habitantes e possui um magnífico sistema de transporte público, denominado de Transportes Metropolitanos de Barcelona - TMB, composto por metrô, trens suburbanos e regionais, veículos leves sobre trilhos (bondes elétricos), ônibus urbanos e turísticos, funiculares e táxis. O TMB é coordenado e gerenciado por uma única entidade, a Autoridade de Transporte Metropolitano - ATM, que utiliza um sistema de integração com um único bilhete, que permite ao usuário fazer transferências nos sistemas de metrô, trens, bondes e ônibus, durante uma hora e quinze minutos. Em complemento ao TMB, a infra-estrutura viária da cidade possui avenidas largas, com faixas segregadas para ônibus e táxis, ciclovias demarcadas, estacionamentos subterrâneos, mergulhões, boa sinalização e semaforização sincronizada. Não existem, obviamente, transportes alternativos e clandestinos, visto que o poder público não dá espaço para tais anomalias, simplesmente porque atende com competência e eficácia as demandas por transporte da população. Existe ainda segurança pública, dentro e fora do sistema de transporte e tudo funciona nos horários pré-estabelecidos.

Os usuários do TMB podem comprar seus bilhetes integrados em todas as estações de bondes e metrô, através de eficientes máquinas que aceitam cartões de crédito e dinheiro ou nas bilheterias tradicionais do metrô. Os congestionamentos são raros ou toleráveis, mesmo nas horas de rush.

Aí, o caro leitor pode argumentar que Barcelona pertence a uma cultura avançada, de Primeiro Mundo etc e tal. Concordo, mas eles começaram tudo isso um dia e vieram evoluindo progressivamente para atingirem o estágio atual. Por que Barcelona e outras grandes cidades espanholas, como Madri, Sevilha e Bilbao, além de outras metrópoles européias, como Paris, Londres, Bruxelas, possuem excelentes sistemas de transporte público? Por que os países europeus investem tanto em transporte público? Simplesmente, os europeus perceberam que o transporte público é fundamental para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Do lado dos países emergentes ou em desenvolvimento, os governantes também perceberam que sistemas eficientes e eficazes de transporte públicos levam felicidade, tranqüilidade e bem estar para a população, atraem investimentos externos e desenvolvem o grande filão econômico que é o turismo. Nessa situação, posso citar os casos de Santiago do Chile, Cidade do México e Pequim, na China, que possuem redes metroviárias mais extensas e sistemas de transporte público mais competentes e mais qualitativos que os sistemas de nossas duas maiores cidades, Rio de Janeiro e São Paulo.

No Brasil, o transporte público não apresenta boa qualidade, carece de grandes investimentos em sistemas integrados e não goza de boa reputação com a população urbana, visto que sua imagem está associada a congestionamentos, poluição, desconforto, insegurança e perdas de tempo. Ademais, os altos custos tarifários do transporte público geram problemas sociais e infelicidade para a população das cidades, bem como malefícios para a economia como um todo, como, por exemplo, desemprego e favelização, bem como aumento dos moradores de rua das grandes cidades, uma vez que os empregadores buscam trabalhadores com moradias próximas aos locais de trabalho, para reduzir faltas, atrasos e gastos com transporte.

Então, qual seria a solução para o transporte público no Brasil? Sem dúvida alguma, a solução são os trens e metrôs. Nos países desenvolvidos, não há registro de regiões metropolitanas densamente povoadas, com mais de 10 milhões de habitantes, que contabilizam 70% dos deslocamentos de seus habitantes realizados por ônibus, como ocorre, por exemplo, no Rio de Janeiro e em São Paulo. As grandes metrópoles mundiais possuem competentes sistemas metroferroviários, de alta capacidade, para atender demandas dessa natureza, de forma integrada com os demais modos de transporte complementares e alimentadores.

Os estudos de viabilidade econômica dos projetos metroferroviários mostram claramente que são gerados benefícios sócio-econômicos suficientes para superar os investimentos públicos realizados, tais como as reduções de acidentes de trânsito, diminuição dos tempos de viagem, economia de combustíveis, eliminação de congestionamentos, redução das poluições atmosférica e sonora, valorização imobiliária, estruturação urbana, redução dos custos de manutenção das vias urbanas e aumento de arrecadação tributária, além de benefícios intangíveis como conforto, segurança, tranqüilidade e qualidade de vida.

Em última análise, as grandes regiões metropolitanas brasileiras precisam, urgentemente, de sistemas de transporte público baseados em espinhas dorsais metroferroviárias, abrangentes e integradas aos demais modos de transporte, para, no futuro, nossos descendentes possam usufruir de melhor mobilidade urbana e de um meio ambiente mais agradável.





* Marcus Quintella integra o grupo exclusivo de colunistas fixos de Plurale Online. É doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME. É atualmente Diretor Técnico da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).



(Envolverde/Revista Plurale)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ecobuild: Cidade tem de ser saudável para ser sustentável

Ecobuild: Cidade tem de ser saudável para ser sustentável

Por Frank Siciliano, especial para a Envolverde




O último dia da feira foi voltado para as discussões sobre as cidades. E um conceito interessante apresentado foi da Cidade Saudável. Ou seja, antes de sustentável a cidade tem ser saudável. Para tal devem dar todas as condições para o cidadão, suprindo suas necessidades como moradia, comida, água, percepção de segurança, áreas verdes, comunidade, beleza.

A única forma disto acontecer é a regionalização dos serviços e da infra-estrutura nas cidades, de maneira a criar condições que permitam deslocamentos a pé ou de bicicleta, minimizando ouso transporte motorizado. Além disso, a cidade saudável deve ter hortas urbanas, recriar comunidades e resgatar a convivência social. Para aqueles que não acreditam que isso deva ou possa acontecer a pergunta é: Como poderão sobreviver os habitantes das nossas cidades nos próximos anos onde já é provado que haverá um aumento de temperatura, a população continuará crescer, as matriz energética existente é limitada e o transporte depende do petróleo que está em seu momento máximo?

Estas mudanças não podem acontecer somente nas novas cidades ou bairros, mas devem acontecer nos centros urbanos já existentes, pedaço por pedaço, considerando as características e necessidades de cada um deles, até com legislações especificas por região.

Outra apresentação interessante foi feita pela empresa ZED Factory Ltda, cujo negócio é criar residências e bairros com consumo de Carbono Zero. Para isso vem trabalhando junto a inúmeros fornecedores com o objetivo de desenvolver um produto capaz de atingir esta meta , a preços acessíveis. É impressionante como vem se desenvolvendo esta empresa. Lembro de ter visitado esse escritório em um visita que fiz a Londres em outubro de 2005 e seu primeiro protótipo, chamado BEDZED, e eles estavam ainda começando . Hoje já têm trabalhos espalhados em países como China e França.

Um fator importante nesta palestra foi a apresentação de incentivos financeiros criados para edificações "verdes", em seis categorias: os benefícios aumentam quanto maior foi o nível atingido. Isto tem sido apontado como uma grande mola propulsora para este tipo de construção, especialmente pelo problema de crédito que o mundo apresenta. Isto tem ajudado a viabilizar ainda mais iniciativas com as da ZED Factory.

Chegamos ao fim da feira com muitas idéias e informações novas e trazemos na bagagem, além de inúmeros fornecedores de produtos sustentáveis de vários países da Europa e Asia, a certeza que o Brasil deve caminhar rápido neste sentido, com o desenvolvimento de nossos profissionais, nossa industria da construção e nosso mercado imobiliário para que possamos andar paralelo com que acontece no resto do mundo e não insistamos em um modelo de desenvolvimento que, sabemos hoje, terá um enorme custo financeiro e ambiental.

* Frank Siciliano é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie com 20 anos de experiência profissional responsável por diversos projetos na área da saúde, com cursos de extensão universitária em Planejamento de Campos Universitários e Instalações Esportivas na Republica Federal da Alemanha e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio-Construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e Ecologia Profunda.

Ecologia Profunda - Um Novo Renascimento

Ecologia Profunda - Um Novo Renascimento

Por Fritjof Capra*




Hoje estamos diante de uma série de problemas globais que prejudicam a biosfera e a vida humana de maneiras tão alarmantes que logo podem se tornar irreversíveis.

Chegamos a esse estágio, face o paradigma que configurou a sociedade ocidental e influenciou o resto do mundo. Esse paradigma consiste em uma série de idéias e valores entre eles: a visão do Universo como um sistema mecânico composto de estruturas elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade com uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser alcançado pelo crescimento economico e tecnológico e por último a crença de que uma sociedade na qual a mulher é em toda a parte subordinada ao homem segue uma lei básica da Natureza. Esses valores estão perdendo a força e o novo paradigma, que pode ser chamado de visão holistica do mundo, vê o mundo como um todo integrado e não como uma reunião de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se o termo “ecológico” for usado em sentido amplo e profundo.

Este sentido amplo e profundo do ecológico está associado a uma escola filosófica e a um movimento global radical, conhecido como “Ecologia Profunda”.

O ambientalismo superficial é antropocentrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui a natureza um valor apenas instrumental ou de uso. A Ecologia Profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Vê o mundo como uma teia de fenômenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza e somos dependentes deles.

Finalmente, a consciência ecológica profunda é espiritual ou religiosa. Uma vez que o conceito de espirito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo sente-se conectado com o cosmos enquanto um todo, torna-se claro que a consciência ecológica é espiritual em sua essência mais profunda. Não surpreende portanto, seja coerente com a chamada “Filosofia perene” das tradições espirituais - quer estejamos nos referindo à espiritualidade dos místicos cristãos, dos budistas, ou a filosofia e cosmologia subjacentes às tradições dos nativos americanos.

Toda a questão de valores é crucial para a ecologia profunda, ela é de fato a característica central que a define, ela baseia-se em valores egocêntricos (isto é, centrados na Terra) É uma visão do Mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana. Todos os seres são membros de Oikos-Lar Terreno, a comunidade une-se numa rede de interdependências. Quando essa percepção tornar-se parte da nossa consciência cotidiana, um sistema ético radicalmente novo emergirá.

Tal ética ecológica faz-se urgente hoje, especialmente na ciência, já que a maior parte do que os cientistas estão fazendo não é no sentido de promover e preservar a vida mas, destrui-la. Com físicos criando sistemas armamentistas que ameaçam varrer a vida do Planeta, químicos contaminando o meio ambiente, biólogos criando novos e desconhecidos microorganismos sem saberem as conseqüências, psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso cientifico.

Por fim a visão de que os valores são inerentes a toda a Natureza viva está fundada na experiência ecológica profunda, ou espiritual, de que a Natureza e o EU são um só. Essa expansão do EU até chegar à identificação com a Natureza é o fundamento da ecologia profunda conforme reconheceu claramente Arne Naess: “O cuidado ocorre se o EU se expandir e aprofundar-se de maneira que a proteção da Natureza seja sentida e concebida como proteção a nós mesmos.”

* Fritjof Capra é físico e teórico de sistemas, com PhD obtido na Universidade de Viena em 1965, antes de passar 20 anos dedicando-se à pesquisa em física de partículas. É diretor-fundador do Centro de Ecoalfabetização da Universidade de Berkeley (Estados Unidos). É autor de vários best-sellers internacionais, como “O Tao da Física”, “Ponto de Mutação”, “A Teia da Vida” e “As Conexões Ocultas”.



(Envolverde/Mercado Ético)

Urbano X Rural

Urbano X Rural
Atividade é o que define se incide IPTU ou ITR
Tanto faz se o imóvel está localizado em área urbana. O que define se
incide sobre a propriedade IPTU ou ITR é a atividade exercida lá. O
entendimento foi firmado pela 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, que negou pedido feito pelo município de Santa
Maria.

A prefeitura tentava cobrar da empresa Alfredo Berleza & Irmãos IPTU
referente ao período de 1996 a 2000. Em primeira instância, a Justiça
declarou a falta de competência do município para recolher o IPTU por
considerar que o imóvel era rural.

Em recurso ao TJ gaúcho, o município alegou que pode instituir o IPTU
sobre todos os imóveis localizados em sua zona urbana, definida por
lei municipal. Acrescentou que, no local em questão, há postes de
iluminação pública e uma escola; além disso, três sócios da empresa
residem na área. Sustentou que o fato de ter sido pago o ITR do
período em questão não desobriga o ressarcimento dos valores
referentes ao IPTU. Justificou que o município não pode ser
prejudicado pelo erro cometido pelo contribuinte, já que o ITR é
recolhido pelo governo federal. Salientou, ainda, a natureza
industrial da empresa e de suas atividades.

A empresa argumentou que atuava no beneficiamento de arroz e que
atualmente está com suas atividades completamente desativadas.
Observou que a área em questão destina-se a manutenção de campos e
matos e que está cadastrada junto à Receita Federal, pagando o ITR em
dia.

O relator, desembargador Roque Joaquim Volkweiss, salientou que há um
consenso na doutrina e nos tribunais entendendo que o critério
adotado para definir a tributação é o da destinação do imóvel. Dessa
forma, quando um imóvel puder, aparentemente, ser enquadrado tanto na
categoria urbana quanto na rural, o fator determinante é a
característica de suas atividades.

"Pode o município instituir o IPTU sobre os bens imóveis localizados
em sua zona urbana, definida em lei municipal, qualquer que seja o
seu uso ou destinação, ressalvados, contudo, os utilizados em
exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial,
que se sujeitam unicamente ao ITR, da competência federal", explicou
o desembargador.

Ele apontou que era responsabilidade do município comunicar à empresa
a inclusão na área de cadastro municipal, possibilitando que fossem
tomadas logo as providências legais necessárias. A decisão foi
unânime. Também votaram os desembargadores Arno Werlang e Adão Sérgio
do Nascimento Cassiano.

Processo: 70019421650