segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O planejamento familiar e as cidades

Conservo com amigos médicos e ainda me impressiono com a quantidade pessoas, meninas e meninos, que se tornam pais muito cedo.

No último episódio, que ganhou fama nacional, de mortalidade de crianças recém nascidas na Santa Casa de Misericórdia do Pará, hospital de referência materno-infantil na cidade, mas que atende a todo o estado, muitas das quase-mães era adolescentes. Aliás, um dos motivos pelos quais as crianças nasceram prematuras era exatamente este: a pouca idade das mães.

Veja o que diz o site do Ministério da Saúde:

"A última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), datada de 1996, apurou que, nos cinco anos anteriores a sua realização, aproximadamente 50% dos nascimentos não foram planejados. Além disso, 584.223 crianças nasceram vivas de partos de mães adolescentes realizados na rede SUS, no ano de 2003, em todo o país.

Segundo estimativa da OMS, no Brasil, 31% das gravidezes terminam em abortamento. Todos os anos ocorrem, de acordo com as estimativas, cerca de 1,4 milhão de abortamentos espontâneos e/ou inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos. Como reflexo dessa situação, no ano de 2004, 243.998 internações na rede SUS foram motivadas por curetagens pós-aborto, correspondentes aos casos de complicações decorrentes de abortamentos espontâneos e inseguros.

Tais curetagens são o segundo procedimento obstétrico mais praticado nas unidades de internação, superadas, apenas, pelos partos normais. Já o abortamento é a quarta causa de óbito materno no País. Os dados mais recentes disponíveis de razão de mortalidade materna por causa, de 2001, apontaram 9,4 mortes de mulheres por aborto por 100 mil nascidos vivos."

O texto acima fala em mulheres de 15 a 49 anos, mas faço uma ilação: seguramente meninas (pobres) estão fazendo a média de natalidade no país.

O governo federal lançou recentemente o chamado Programa de Planejamento Familiar.Um programa desses, com alcance que desejar atingir, leva algum tempo para se firmar.
Enquanto isso, temos que cuidar das crianças, adolescentes e jovens que nasceram da falta de planejamento familiar.

Há cidades que sofrem por conta dessa incúria. A violência urbana, é só olhar os jornais, vem sendo praticada, na maioria das vezes, por adoslecentes e jovens em idade escolar e ocupacional que não têm oportunidade de educação e emprego. Nossos sinais de trânsito estão abarrotados de jovens pedintes, malabaristas, cheira-cola, assaltantes. Mesmo cidades de porte bem menor que a capital sofrem com a prostituição infanto-juvenil e mesmo um fenômeno que representa bem a dor que a alma dessas pessoas experimenta: o suicídio.

De certa forma, há uma tendência da população, que não se sente segura, em se revoltar e reagir, quando pode, de forma violenta aos seus agressores. Estamos assistindo muitas situações de linchamento de pequenos e médios assaltantes por hordas enfurecidas.

Em outro post falei da falta de áreas de lazer e contemplação na cidade.

Desta vez falo da falta de áreas - quadras, campos de futebol, arenas - esportivas - que se conjuguem com a escola para ocupar a mente e o corpo de nossos jovens e afastá-los da criminalidade.

Há muito tempo países desenvolvidos aprenderam que o esporte é o caminho mais curto e barato para se afastar crianças e adolescentes das drogas e aproximá-los de uma vida saudável e de um caminho reto.

No Brasil, e em particular em Belém, não temos centros esportivos vinculados nem a escolas, nem a alguma instituição pública.

Há exceções, como os centros de ginástica olímpica no Paraná e algumas iniciativas em relação ao voleibol, no sul e sudeste.

Não cuidarmos de nossa juventude, seja com programas de educação sexual, seja incentivando-os às práticas esportivas, é empuurá-la para as drogas e a marginalidade.

Quando finalmente vamos despertar para isto?

Sob outro aspecto, cuidando deles, diminuíremos, a longo prazo, as demandas por hospitais públicos, a demanda por mais policiais, por mais escolas e tantos outros equipamentos públicos.

Enfim, a cidade vai poder se planejar minimamente.

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