terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A morte te espera na esquina

Aversão, incômodo, revolta, irresignação, inconformismo, repugnância. Não sei exatamente a palavra, talvez todas elas juntas.
Na quinta e sexta-feira, São Paulo, Rio e Belém sentiram o peso da natureza humana reagindo a falta de investimento na educação, nas oportunidades, no cuidar humano.
Em São Paulo e Belém, uma médica e um médico famosos foram mortos após tentativas frustradas de assalto. No Rio, um oficial da reserva do Exército.
Todos com a mesma característica: duas pessoas numa moto abordam o incauto, anunciam o assalto. A vítima reage e como "punição" é baleado. No Rio, a diferença é que a vítima não estava diretamente envolvida no assalto. Foi atingida após perseguição da polícia aos assaltantes, que foram pegos em flagrante.
Mais uma característica em comum: os assaltos forma praticados contra pessoas que saíam de bancos, depois de sacar dinheiro. O crime é chamado de "saidinha".
De diferente é porque Belém está no meio de duas megacidades.
Em Belém, cidade de pouco mais de cerca de 1,5 milhão de habitantes, dez vezes menor que as outras duas, há uma desproporção deste crime e de assaltos à mão armada. A população sente-se desamparada, insegura mesmo.
Não se pode parar em semáforos, cruzamentos, sem que o medo, o pavor e pânico nos tome, literalmente, de assalto.
E estamos perdendo vidas preciosas de pessoas de bem.
Num período de três anos, três médicos, um professor universitário, um pesquisador de botânica do Museu Emilio Goeldi e mais de 10 pessoas foram assassinadas por assaltantes que abordam em semáforos, esquinas e após saques em agências bancárias. Todos homens de bem, todos abnegados por uma vida melhor.
No Pará, há um deficit estimado de dez mil policiais. É necessário e imprescindível e urgente que se aumente o número de policiais. O governo do Estado promete para breve, concurso para contratar 3.500 novos policiais.
Mas ninguém se engane. A criminalidade, esta espécie de crime, não diminuirá se não houver um forte investimento no controle da natalidade, no controle do fluxo migratório entre estados, no combate ao tráfico de drogas, no combate ao uso de drogas e álcool, no acolhimento de crianças e jovens em escolas, dando-lhe também oportunidades de lazer e trabalho.
Em quase todos episódios de assaltos como estes, há adolescentes, menores.
Assim como a natureza está devolvendo as agressões do homem ao meio ambiente em forma de eventos extremos, também a natureza humana está devolvendo anos de omissão, descaso, falta de cuidado com os seres humanos em formato de violência urbana, de falta de sensibilidade com o bem mais precioso que temos: a nossa vida.
Não adiantarão passeatas, com carros de som, músicas e palavras de ordem. São eventos efêmeros que podem servir para iniciar uma mobilização, mas que normalmente se perdem com o tempo.
É preciso canalizar as forças para que se cobre efetivamente posturas do Poder Público em investimento na segurança, na educação, na geração de oportunidades e lazer. É preciso combater a corrupção, ser intolerante com o desvio de recursos para o bem.
Transformar violência em amor custa caro e dá trabalho. Mas se não cuidarmos disso imediatamente, mais e mais pessoas de bem, e queridas, serão martirizadas em vão.

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