quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Uma palavra sobre Obama

Ainda falarei sobre isto neste blog outras vezes, pelo seu significado.
Mas já podemos dizer que mais um "muro" ruiu no mundo. Aliás, muros vem sendo destruídos, barreiras rompidas nos últimos anos e meses.
A vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais americanas rompe diversas berreiras.
Primeiro porque alça não só um negro, que será não apenas o primeiro a chegar a presidência daquele país, mas um negro com características especiais: filho de pai queniano com mãe americana, que carrega no nome o simbolismo de tudo que foi o principal alvo do desastroso governo que se vai, a xenofobia contra as pessoas do Oriente Médio e praticantes das religiões daquela região. Quem imaginaria que sete anos depois das torres gêmeas uma pessoa chamada Hussein Obama chegaria a Casa Branca?
Obama vence num momento particularmente difícil para os EUA e para os fundamentos políticos que espalhou pelo mundo. O seu liberalismo fracassou, o Estado está tendo que intervir fortemente no resultado da desregulação do mercado financeiro do país e muito mais intervenção terá que ser operada para aplacar as dificuldades da população.
Obama vence a barreira do preconceito racial, apenas 44 anos após o voto negro nos EUA ter se tornado universal. Obama redime os bravos negros lutadores, como Martin Luther King, que buscavam o respeito e a dignidade do Estado e da sociedade americana. Acabo de assitir a um discurso do reverendo John Lewis, contemporâneo de King, que afirmava que este estaria no céu dizendo em relação a vitória de Obama, "aleluia, aleluia, aleluia".
Obama representa um profundo sentimento de esperança na comunidade americana e mundial. A corrida às urnas, com recordes de comparecimento, mostra esse movimento. Aliás, os EUA são um exemplo de desrespeito e avacalhação contra o eleitor. Pelo fato de não terem voto obrigatório, o país não se prepara para este momento sagrado e massacra seus eleitores. Urnas em garagens, em oficinas, em residências particulares que transformam a vida dos eleitores num verdadeiro suplício de espera por até 5 horas revelam que esta sociedade ainda tem que se transformar, e muito, para ser considerada a maior democracia do mundo.
Obama em diversos discursos usou a expressão antes usada pelo presidente Lula quando se elegeu a primeira vez para a presidência do Brasil: a esperança deve vencer o medo. E usava a expressão porque acusado de ser uma incógnita, de ser um senador de primeiro mandato, de ser inexperiente, de não estar preparado. A sociedade americana deu a resposta: querem viver o imponderável. Vão pagar para ver.
Penso que Obama cativou a população pela postura tranquila, serena que passou em toda a campanha eleitoral. Os jovens, negros, latinos e todos que estão transformando a feição demográfica americana elegeram este homem. Ao que tudo indica, há uma parcela da sociedade americana que entendeu o momento e percebeu que os EUA para voltarem a ter a importância geopolítica de outrora, devem ser mais integracionistas, solidários, humanos para dentro e para fora do país.
O tempo dirá se Obama está a altura do momento. Seus discursos são carregados de emoção e referências históricas. Em discurso, ele está pronto. Mas discursos são discursos.
Assisti recentemente ao filme Bobby, que marca os últimos dias da trajetória de Robert Kennedy, irmão do presidente John Kennedy e então candidato a candidato a presidente pelo partido democrata em 1968.
Depois de um discurso apoteótico, messiânico até, recheado de referências sobre a necessidade do fim da guerra do Vietnã, da necessidade de se olhar o ser humano com respeito, da importância da solidariedade e tantos outros valores importantes e dignos, é assassinado impiedosamente.
Deus queira que Obama escape dos fanáticos e loucos americanos.
A vitória de Obama nos apresenta o inesperado. Num mundo globalizado, torcer por Obama e seu discurso agregador não é pecado. Chamou-me a atenção especialmente as suas palavras de que não fará mágica para melhorar o seu país, talvez, disse, um mandato não seja suficiente para consertar o estrago. Pediu, por fim, a ajuda da população americana. Se pedisse isso no Brasil, muitos diriam: vai sobrar para a classe média, para os pobres, para os assalariados. Como a classe média americana está no chão, é possível que a ajuda não se reflita em mais sacrifícios para ela.
Agora é esperar. Mas foi muito bom assistir a mudança do ainda país mais poderoso do mundo.

3 comentários:

Lilian Haber disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Meu querido, muito bom seu texto e eu também me senti esperançosa novamente com essa vitória, como se fosse no meu País.
Beijos,
Erika.

Mauro O' de Almeida disse...

Prezada Érika, enquanto alguns arautos do catastrofismo afirmam que o mundo caminha para a radicalização, na maior potência desse mundo, eles se dão o direito de experimentar o novo, mas um novo que baseou a sua campanha na conciliação. Vamos pagar para ver também