sábado, 22 de novembro de 2008
A Família
Ah, a Família. Esta instituição deve ser uma das mais combatidas na mídia, pelo crime, pelo comércio, pelo mundo, ainda que seja aparentemente objeto de defesa de todos.
Millor Fernandes, que anda escrevendo mais sobre o cotidiano, em pequenos textos, escreveu sobre a família no último número de VEJA, coincidentemente na edição cuja a capa traz o ator Fábio Assunção, tema central de uma reportagem (mais uma) sob o ambiente de drogas no meio artístico.
Infelizmente a diagramação do texto eliminou boa parte dele por conta da colocação de uma imagem bem no seu centro.
Do que consegui extrair, vai transcrito. De certa forma complementa os últimos dois posts publicados que fazem a interface entre a família e a cidade.´
"O que antes era rotina, hoje é um ato de heroísmo: apoiar a família. A maior parte dos maridos e das esposas que eu conheço não formam um casal, ainda não sei o que formam. As vidas do pai, da mãe e dos filhos estão no mesmo espaço, mas não estão juntas. Como é que a família pode florescer no meio de trevos, viadutos, edifícios de 100 andares e 1.000 apartamentos por andar? A Mulher pode ser livre e ser familiar. Quando vem o raio da infelicidade - ou da desgraça- todos gritamos: "mamãe!" O "viva a vida" substitui o amor ao próximo(...)
A volta do humanismo só começa com a família, a disciplina. O drama, a comédia e vida propriamente dita não tem graça no monólogo. Depois da psicanálise, cada criança se tornou uma culpa e um pesadelo. Temos assim, a medida de nossa inadequação, e a família tem cada vez mais desertores. Dá pra esconder dela o nosso medo? No nosso nível social não temos desculpa pros nossos fracassos. "Ninguém é herói pro se criado de quarto". E pra sua mulher? E pros seus filhos? O que a família sabe sobre nós não é nada agradável. E nos coloca nus diante do respeitável público. Entre os pobres só a família pode ajudar a subsistir, num país em que o salário mínimo é o salário máximo. Fora da família não há aceitação do tédio. O pobre sabe que não pode ser individualista a não ser no crime: e aí morre cedo. A lei só chega na hora da opressão e do desastre, e corremos pro que resta da família. O homem comum não tem escolha. Só em comunidades distantes nos reconhecem pelo que não somos. Ninguém se libera pelo hedonismo. Evitando a família, nos livramos da necessidade do apoio, da dor do outro e da obrigação de lavar louça. Enquanto nos entregamos às grandes causas nos sentimos liberados: de quê, da mulher, dos filhos, do pai doente, da tradição, do hábito, do confinamento - da família?"
Completo: ainda é e há tempo de cuidarmos da família. A onda do "ser feliz agora" precisa ser mais responsável. Não se pode constituir uma família de brincadeira, porque é linda a cerimônia de casamento, ou por um descuido de um sexo casual ou ainda pela ignorância do sentido da vida. Nem desfazê-la pelo primeiro obstáculo encontrado no caminho, nem pelo hedonismo impositivo que nos cerca.
Sem uma família forte, não há vida feliz, não há mundo melhor.
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