Do Terra Magazine
–1. Como todos os cidadãos brasileiros perceberam muito bem, o Supremo Tribunal Federal (STF) não tem critério, —exceção às questões criminais e a envolver habeas corpus liberatório–, para dar solução a um conflito em caso de empate no julgamento.
Isso ficou patente no empate de 5 votos e por ocasião da apreciação do recurso do então candidato Joaquim Roriz.
Parêntese. Um Roriz que, depois da suprema vacilação da Corte, desistiu do processo e deu uma banana para as 14 horas gastas no julgamento, que acabou sem solução de mérito. Fechado o parêntese, sem esquecer que a esposa e substituta de Roriz disputará o segundo turno ao governo do Distrito Federal, apesar do escárnio à cidadania perpetrado pelo substituído.
Os ministros, — muitos deles encastelados e distantes da sociedade–, proporcionaram, diante da indefinição, um primeiro turno extravagante.
E os fichas sujas empenharam-se em vencer a eleição para invocar, num futuro julgamento no STF e com apoio nos sufrágios obtidos, o fato consumado. Eles já estão em cima de banquinhos com o discurso do prevalecimento da vontade popular, pois, na Democracia representativa, todo poder vem do povo e em seu nome é exercido.
Para o ministro Marco Aurélio de Mello, o presidente Lula foi o culpado pelo empate e pela decorrente insegurança jurídica gerada.
Esqueceu o ministro Marco Aurélio que, caso já escolhido, sabatinado e empossado um novel ministro, também poderia ter dado empate. Por exemplo, com o ministro Marco Aurélio acometido de uma infecção intestinal de modo a não poder comparecer à sessão.
Em resumo e segundo ouvi de um frentista do posto de abastecimento de gasolina e álcool: “O Supremo é vacilão”.
–2. Entre o ridículo e o trágico, os ministros do STF articulam uma solução.
Finalmente, a ficha caiu e alguns ministros perceberam, –como já cansamos de escrever neste blog Sem Fronteiras de Terra Magazine–, que esperar a posse do ministro que substituirá o aposentado Eros Grau, seria deixar para Lula e para o Senado o voto de desempate.
Por exemplo, Lula poderia indicar um favorável à aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa e o Senado, pelos José Sarney e os Renan Calheiros, para garantir o pendurado Jader Barbalho, reprovar o ungido presidencial.
Com efeito, no STF a tendência é deixar a solução para o presidente Cezar Peluso, isto no julgamento do recurso de Jader Barbalho, que está instruído e pronto para ser colocado em pauta.
Peluso, que no caso Roriz negou-se a votar duas vezes, parece inclinado a mudar de posição, ou seja, poderá dar um segundo voto. Ele manteria, como julgador, o seu entendimento de negar vigência imediata à Lei de Ficha Limpa, mas daria um voto de natureza política, como presidente da nossa máxima Corte de Justiça.
Como não tenho esfera de cristal, não posso adivinhar qual seria o teor do segundo voto de Peluso, que é um juiz independente, frise-se. Peluso, –e o conheço há mais de trinta anos–, julga de acordo com a sua consciência. Portanto, não cede a pressões. Atenção: isso não quer dizer que não possa errar e decidir mal.
No momento, dá para ver, na balança de Têmis ( deusa da Justiça), que já estão colocadas nos dois pratos as teses contrastantes. De um lado, está a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que entendeu pela constitucionalidade e aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa. Do outro lado, no segundo prato da balança, está o lastro formado pelos votos obtidos do ficha suja Jader Barbalho. No segundo prato sente-se o odor de ranário com águas corrompidas.
– Walter Fanganiello Maierovitch–
sábado, 9 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
A incrível máquina de comunicação
Ontem, depois de mais de um mês de paralisação, coloquei alguns textos extraídos da internet, sobre algumas coisas que reputo importante.
Este blog tem sido árido nos escritos de seu proprietário, procurando, quando possível, colocar textos interessantes.
Não é, portanto, ou não tem sido, um blog dinâmico e ativo.
Haviam visitado este blog até ontem, 8.775 almas.
Hoje, incrivelmente, consta o número de visitantes de 8.805.
30 pessoas visitaram esse blog de ontem 18:00 h para hoje, 12:00 h (meio-dia).
Um blog quase inativo.
Esse mundo da internet, e os blogs em particular, tem sido um fenômeno de comunicação.
Estou melhor que o Luís Fernando Veríssimo com os seus 17 leitores.
Obrigado a quem me visita.
Este blog tem sido árido nos escritos de seu proprietário, procurando, quando possível, colocar textos interessantes.
Não é, portanto, ou não tem sido, um blog dinâmico e ativo.
Haviam visitado este blog até ontem, 8.775 almas.
Hoje, incrivelmente, consta o número de visitantes de 8.805.
30 pessoas visitaram esse blog de ontem 18:00 h para hoje, 12:00 h (meio-dia).
Um blog quase inativo.
Esse mundo da internet, e os blogs em particular, tem sido um fenômeno de comunicação.
Estou melhor que o Luís Fernando Veríssimo com os seus 17 leitores.
Obrigado a quem me visita.
Dois pesos...
Por Maria Rita Kehl
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente.
Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
Publicado em 2/10/2010 em O Estado de S. Paulo
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente.
Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
Publicado em 2/10/2010 em O Estado de S. Paulo
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Depois eleições...
Por Mauro O'de Almeida
Nesses dias um pouco antes das eleições e agora, após a sua realização, não se fala de outra coisa: o palhaço (nenhum veiculo de comunicação o chama mais de comediante ou humorista, que foi como eu o conheci)Tiririca é o campeão de votos e isso é um retrato da alienação eleitoral do brasileiro e o desprezo pelo que a população trata o congresso.
Não sei se é bem assim. De uns tempos para cá, tenho percebido que a população, silenciosamente, vai tentando melhorar o seu jeito de votar. O que não há são opções.
Alguns estados, como o nosso, também elegeu como mais votado, se não um palhaço, ou comediante, um personagem no mínimo polêmico.
Em quase todos os estados, a população elegeu seus tiriricas, mas também elegeu pessoas aparentemente fichas-limpas, o que não quer dizer que sejam verdadeiramente respeitáveis senhores/senhoras.
O que me parece é que a população, ao passo que vota em pessoas ditas sérias, também tem um conteúdo algo irônico, e até sarcástico, de colocar palhaços no congresso, como se dissessem "antes que vocês, homens sérios, nos decepcionem com suas atuações e adesões ao pior jeito de fazer política, nós já mandamos um palhaço para tratar com vocês".
De fato, o sistema eleitoral, a forma de se fazer propaganda eleitoral, a legislação, tudo conspira para eleições mornas, onde a forma se sobreponha ao conteúdo.
O processo eleitoral formal tem sido tudo, menos educativo.
O povo, para variar um pouco, está se educando eleitoralmente na marra, tentando, variando,experimentando, mantendo, mudando, com o material que lhe é apresentado.
O problema é que o material é ruim, com raras exceções.
A hora, mais uma vez é de mudança, mas as mudanças, no contexto eleitoral vigente, estão se dando de maneira enviesada, para ficar tudo no mesmo lugar.
Nesses dias um pouco antes das eleições e agora, após a sua realização, não se fala de outra coisa: o palhaço (nenhum veiculo de comunicação o chama mais de comediante ou humorista, que foi como eu o conheci)Tiririca é o campeão de votos e isso é um retrato da alienação eleitoral do brasileiro e o desprezo pelo que a população trata o congresso.
Não sei se é bem assim. De uns tempos para cá, tenho percebido que a população, silenciosamente, vai tentando melhorar o seu jeito de votar. O que não há são opções.
Alguns estados, como o nosso, também elegeu como mais votado, se não um palhaço, ou comediante, um personagem no mínimo polêmico.
Em quase todos os estados, a população elegeu seus tiriricas, mas também elegeu pessoas aparentemente fichas-limpas, o que não quer dizer que sejam verdadeiramente respeitáveis senhores/senhoras.
O que me parece é que a população, ao passo que vota em pessoas ditas sérias, também tem um conteúdo algo irônico, e até sarcástico, de colocar palhaços no congresso, como se dissessem "antes que vocês, homens sérios, nos decepcionem com suas atuações e adesões ao pior jeito de fazer política, nós já mandamos um palhaço para tratar com vocês".
De fato, o sistema eleitoral, a forma de se fazer propaganda eleitoral, a legislação, tudo conspira para eleições mornas, onde a forma se sobreponha ao conteúdo.
O processo eleitoral formal tem sido tudo, menos educativo.
O povo, para variar um pouco, está se educando eleitoralmente na marra, tentando, variando,experimentando, mantendo, mudando, com o material que lhe é apresentado.
O problema é que o material é ruim, com raras exceções.
A hora, mais uma vez é de mudança, mas as mudanças, no contexto eleitoral vigente, estão se dando de maneira enviesada, para ficar tudo no mesmo lugar.
A agroenergia serve à vida ou ao capital?
Por Leonardo Boff
No artigo anterior abordamos a energia como um dos maiores enigmas do universo, especialmente, a Energia de Fundo que sustenta o cosmos e cada ser. Agora concentramo-nos na agroenergia, a mais saudada nos dias atuais por causa da crescente exaustão da matriz energética fóssil. Ela é vista como uma espécie de Arca de Noé salvadora do atual sistema.
Naturalmente, a energia, pouco importa seu tipo, é imprescindível para tudo, particularmente é o motor da ecocomia de mercado e para todas as civilizações.
Quem quiser ter um apanhado bem fundado do tema numa perspectiva global, passando pelos paises produtores e analisando os principais agrocombustíveis e, em geral, a bioenergia, deve ler o livro de François Houtart, A agroenergia: solução para o clima ou saida da crise para o capital? (Vozes 2010). O autor, sociólogo belga, muito conhecido em todo o terceiro mundo por ter criado em Louvain um Centro Tricontinental onde forma quadros da melhor qualidade, vindos do Grande Sul, para atuarem de forma tansformadora em seus respectivos paises, entre eles muitos brasileiros. É um dos fundadores e animamdores do Forum Social Mundial.
A utilização de energias renováveis obedece a dois imperativos: o primeiro, a curta longevidade do petróleo, cerca de 40 anos, do gás, 60 e 200 para o carvão: o segundo, é a salvaguarda do meio ambiente e o controle do aquecimento global que, descuidado, pode pôr em risco toda a civilização.
Mesmo assim, um substituto à energia fóssil não é ainda, a médio prazo, alcançável. A agroenergia representará em 2012 apenas 2% do consumo global e poderá chegar a 7% em 2030, supondo a utilização do conjunto das terras agricultáveis da Austrália,da Nova Zelândia, do Japão e da Coréia do Sul. Se forem utilizadas todas as superfícies produtivas da Terra alcançariam o equivalente ao petróleo que é um bilhão e 400 bilhões de barris/dia. Ora, as demandas atuais se elevam a 3 bilhões e 500 milhões, tendendo a subir. Aqui emerge um impasse sistêmico. Tal fato obrigaria pensar num outro modo de produção e de consumo, menos energívoro.
Se houvesse sentido de futuro coletivo, compaixão para com a humanidade sofredora, grande parte dela submetida à fome, à escassez de água potável e a todo tipo de enfermidade e se predominasse o cuidado para com a Mãe Terra contra a qual movemos guerra total no solo, no subsolo, nos ares, nos rios e nos oceanos, refletiríamos seriamente como encontrar um modo de habitar o planeta com mais sinergia com os ritmos da natureza, com responsabilidade coletiva pela inclusão de todos e com benevolência para com a comunidade de vida. Agora seria a grande ocasião. Mas nos falta sabedoria e ainda acreditamos nas possibilidades ilusórias do desastroso sistema capitalista que nos levou ao impasse atual.
O drama que envolve as energias alternativas reside no fato de que elas foram sequestradas pela lógica do capital. Este visa lucro crescente e nunca toma em consideração as “externalidades” que não entram no cálculo econômico (como a degradação da natureza, a poluição do ar, o aquecimento global, o crescimento da pobreza). Elas somente são tomadas a sério quando forem tão negativas a ponto de prejudicarem as taxas de lucro do capital. Por isso, não nos enganemos com as empresas que alardeiam o caráter “verde” de sua produção. O “verde” vale desde que não afete os lucros nem diminua a capacidade de concorrência.
Importa dizer com todas as palavras: a busca de energias alternativas limpas não intenciona forjar formas de salvar o gênero humano e suas capacidades vitais mas visa a preservar a sorte do sistema do capital com sua lógica do ganha-perde.
Ora, esse sistema, com flexibilidade e adaptação espantosas, é capaz de produzir ilimitados bens e serviços mas sempre à custa da dominação da natureza e da criação de perversas desigualdades sociais. Hoje ele está encostando nos limites da Terra cujos recursos estão se extenuando. Está realizando a profecia de Marx segundo a qual ele iria destruir as duas fontes de sua riqueza: a natureza e o trabalho. Ora, estamos assistindo exatamente o cumprimento desta sinistra profecia.
A agroenergia não pode estar a serviço da reanimação de um moribundo mas deve reforçar a vida que demanda outro tipo de produção e de relação não destrutiva para com a natureza. O tempo para isso é urgente para não chegarmos atrasados.
(Envolverde/O autor)
No artigo anterior abordamos a energia como um dos maiores enigmas do universo, especialmente, a Energia de Fundo que sustenta o cosmos e cada ser. Agora concentramo-nos na agroenergia, a mais saudada nos dias atuais por causa da crescente exaustão da matriz energética fóssil. Ela é vista como uma espécie de Arca de Noé salvadora do atual sistema.
Naturalmente, a energia, pouco importa seu tipo, é imprescindível para tudo, particularmente é o motor da ecocomia de mercado e para todas as civilizações.
Quem quiser ter um apanhado bem fundado do tema numa perspectiva global, passando pelos paises produtores e analisando os principais agrocombustíveis e, em geral, a bioenergia, deve ler o livro de François Houtart, A agroenergia: solução para o clima ou saida da crise para o capital? (Vozes 2010). O autor, sociólogo belga, muito conhecido em todo o terceiro mundo por ter criado em Louvain um Centro Tricontinental onde forma quadros da melhor qualidade, vindos do Grande Sul, para atuarem de forma tansformadora em seus respectivos paises, entre eles muitos brasileiros. É um dos fundadores e animamdores do Forum Social Mundial.
A utilização de energias renováveis obedece a dois imperativos: o primeiro, a curta longevidade do petróleo, cerca de 40 anos, do gás, 60 e 200 para o carvão: o segundo, é a salvaguarda do meio ambiente e o controle do aquecimento global que, descuidado, pode pôr em risco toda a civilização.
Mesmo assim, um substituto à energia fóssil não é ainda, a médio prazo, alcançável. A agroenergia representará em 2012 apenas 2% do consumo global e poderá chegar a 7% em 2030, supondo a utilização do conjunto das terras agricultáveis da Austrália,da Nova Zelândia, do Japão e da Coréia do Sul. Se forem utilizadas todas as superfícies produtivas da Terra alcançariam o equivalente ao petróleo que é um bilhão e 400 bilhões de barris/dia. Ora, as demandas atuais se elevam a 3 bilhões e 500 milhões, tendendo a subir. Aqui emerge um impasse sistêmico. Tal fato obrigaria pensar num outro modo de produção e de consumo, menos energívoro.
Se houvesse sentido de futuro coletivo, compaixão para com a humanidade sofredora, grande parte dela submetida à fome, à escassez de água potável e a todo tipo de enfermidade e se predominasse o cuidado para com a Mãe Terra contra a qual movemos guerra total no solo, no subsolo, nos ares, nos rios e nos oceanos, refletiríamos seriamente como encontrar um modo de habitar o planeta com mais sinergia com os ritmos da natureza, com responsabilidade coletiva pela inclusão de todos e com benevolência para com a comunidade de vida. Agora seria a grande ocasião. Mas nos falta sabedoria e ainda acreditamos nas possibilidades ilusórias do desastroso sistema capitalista que nos levou ao impasse atual.
O drama que envolve as energias alternativas reside no fato de que elas foram sequestradas pela lógica do capital. Este visa lucro crescente e nunca toma em consideração as “externalidades” que não entram no cálculo econômico (como a degradação da natureza, a poluição do ar, o aquecimento global, o crescimento da pobreza). Elas somente são tomadas a sério quando forem tão negativas a ponto de prejudicarem as taxas de lucro do capital. Por isso, não nos enganemos com as empresas que alardeiam o caráter “verde” de sua produção. O “verde” vale desde que não afete os lucros nem diminua a capacidade de concorrência.
Importa dizer com todas as palavras: a busca de energias alternativas limpas não intenciona forjar formas de salvar o gênero humano e suas capacidades vitais mas visa a preservar a sorte do sistema do capital com sua lógica do ganha-perde.
Ora, esse sistema, com flexibilidade e adaptação espantosas, é capaz de produzir ilimitados bens e serviços mas sempre à custa da dominação da natureza e da criação de perversas desigualdades sociais. Hoje ele está encostando nos limites da Terra cujos recursos estão se extenuando. Está realizando a profecia de Marx segundo a qual ele iria destruir as duas fontes de sua riqueza: a natureza e o trabalho. Ora, estamos assistindo exatamente o cumprimento desta sinistra profecia.
A agroenergia não pode estar a serviço da reanimação de um moribundo mas deve reforçar a vida que demanda outro tipo de produção e de relação não destrutiva para com a natureza. O tempo para isso é urgente para não chegarmos atrasados.
(Envolverde/O autor)
Aquecimento Global
Por Washington Novaes
“As informações são a cada dia mais contundentes, o ceticismo perde espaço. É preciso avançar rapidamente com políticas públicas. Só que nos faltam instrumentos eficazes.”
Ficou muito mais difícil para os chamados “céticos das mudanças climáticas” continuarem a negar que elas têm se intensificado em conseqüência do aumento da temperatura na Terra, com forte contribuição das ações humanas para o processo. Um Comitê de Revisão dos Procedimentos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, órgão científico da Convenção do Clima da ONU), liderado pelo InterAcademy Council (o IAC, que reúne sociedades acadêmicas de vários países), concluiu que o processo dirigido pelo IPCC precisa aperfeiçoar seus procedimentos, como acentuou editorial do jornal O Estado de S. Paulo (5/9). Mas que, no todo, “serviu bem à sociedade”: “O engajamento de muitos milhares dos mais destacados cientistas e outros pesquisadores no mundo no processo e na comunicação sobre a compreensão das mudanças climáticas, seus impactos e a possível estratégia de adaptação e mitigação, é uma conquista considerável em si mesma” – diz o parecer do IAC. “Da mesma forma, o compromissos dos governos para o processo e sua aceitação dos resultados é uma indicação clara do êxito.
Através de uma parceria maior entre cientistas e governos, o IPCC ampliou a consciência do público sobre mudanças climáticas, elevou o nível do debate científico e influenciou a agenda científica de muitas nações.”
O IAC critica alguns pontos da atuação do IPCC, principalmente a conclusão precipitada de que as geleiras do Himalaia se derreteriam até 2035. E entende que o painel precisa modernizar sua estrutura, trabalhar mais a complexidade de certos fenômenos, ter “mais transparência em seus procedimentos”, instituir um comitê executivo, limitar a um mandato os poderes dos seus executivos. De modo geral, entretanto, reconhece o valor dos quatro relatórios do IPCC.
Os “céticos” enfrentam também, no mesmo momento, uma mudança radical de postura de Bjorn Lamborg, autor do livro “O ambientalista cético”, que tanto furor causou há poucos anos. Surpreendentemente, ele declara agora que vai começar a enfrentar o problema das mudanças climáticas – em lugar de negá-las. Junto com oito economistas, ele passa a liderar um movimento que sugere forte investimento em energia alternativas, principalmente solar, eólica e de marés. Embora achem que lobbistas de empresas investidoras nessas energias “exageraram as mudanças climáticas”, esses analistas sugerem agora um investimento de US$100 bilhões nesse campo. Coincidência ou não, nesses mesmos dias o jornal britânico Sunday Telegraph publicou um pedido de desculpas ao presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, a quem acusara de ter “conflitos de interesse”, receber pagamentos de empresas interessadas na área de energias. Após auditoria da KGPM nas contas pessoais de Pachauri, o jornal afirmou que “não há nenhuma evidência de benefícios pessoais com as funções de consultor”.
Na direção contrária à dos “céticos”, o Instituto de Meio Ambiente da Suécia e o cientista Sivan Kartha publicaram trabalho de análise das intenções manifestadas na Convenção do Clima, em Copenhague, pelos países emissores. Segundo o parecer, se se concretizarem apenas as ações propostas ali pelos países emissores, até o fim do século a temperatura planetária se elevará em 3,5 graus Celsius, com “efeitos desastrosos para a produção agrícola, a disponibilidade de água e os ecossistemas em geral”, além de elevação do nível do mar e possível desaparecimento de ilhas no Pacífico (O Globo, 31/8). Esse relatório foi reforçado por outro, da Administração Nacional dos Oceanos e Atmosfera, dos Estados Unidos, segundo quem sete dos 10 indicadores de aquecimento global “estão em ascensão”.
Nada disso, entretanto, significa que se terá nestes próximos tempos mudança importante nos rumos dessa grave questão. As lógicas financeiras, que influenciam países e empresas, continuam a comandar o processo. De 4 a 9 de outubro, em Tianjin, na China, acontecerá mais uma reunião preparatória da assembléia geral da Convenção do Clima, prevista para novembro, em Cancun, no México. Mas não se espera que aconteça em Tianjin nenhum milagre. Nem mesmo em Cancun. O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tem reiterado que não se prevê nenhum acordo importante para Cancun – no máximo, a definição de um “roteiro” para a discussão seguinte, na África do Sul, em 2011. Talvez se defina – na linha do relatório do IAC – que não seja renovado em outubro o mandato de Rajendra Pachauri, que pretendia ficar mais quatro anos no posto.
O governo brasileiro, que não contesta os relatórios do IPCC, anunciou na semana passada que já tem R$200 milhões para combater efeitos de mudanças climáticas, com projetos de pesquisas e ações específicas, que serão prioritárias no Semi-Árido nordestino. Ali, como mostrou a recente Conferência sobre Desertificação, os problemas não cessam de avançar, com a contribuição do clima.
É importante, mas é pouco. Os eventos extremos entre nós têm-se intensificado – basta lembrar enchentes e desabamentos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, inundações em São Paulo, eventos terríveis no Nordeste, elevação inédita de temperaturas no Centro do país – com nível inacreditável de queimadas -, notícias de avanço do nível do mar e destruição de ocupações no litoral.
As informações são a cada dia mais contundentes, o ceticismo perde espaço. É preciso avançar rapidamente com políticas públicas. Só que nos faltam instrumentos eficazes. Ainda no começo desta semana, como lembrou este o jornal O Estado de S. Paulo (5/6), “os remédios para mudanças de microclimas são muito complexos”. E a situação de emergência, de extrema secura do ar na capital no mês de agosto, não pôde ser enfrentada com eficácia, porque “envolve toda a parte de ocupação do solo e também uma política de mobilidade. E São Paulo não tem um Plano B” (6/9). É grave.
*Washington Novaes é jornalista. Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 10 de setembro de 2010.
(Envolverde/Instituto Akatu)
“As informações são a cada dia mais contundentes, o ceticismo perde espaço. É preciso avançar rapidamente com políticas públicas. Só que nos faltam instrumentos eficazes.”
Ficou muito mais difícil para os chamados “céticos das mudanças climáticas” continuarem a negar que elas têm se intensificado em conseqüência do aumento da temperatura na Terra, com forte contribuição das ações humanas para o processo. Um Comitê de Revisão dos Procedimentos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, órgão científico da Convenção do Clima da ONU), liderado pelo InterAcademy Council (o IAC, que reúne sociedades acadêmicas de vários países), concluiu que o processo dirigido pelo IPCC precisa aperfeiçoar seus procedimentos, como acentuou editorial do jornal O Estado de S. Paulo (5/9). Mas que, no todo, “serviu bem à sociedade”: “O engajamento de muitos milhares dos mais destacados cientistas e outros pesquisadores no mundo no processo e na comunicação sobre a compreensão das mudanças climáticas, seus impactos e a possível estratégia de adaptação e mitigação, é uma conquista considerável em si mesma” – diz o parecer do IAC. “Da mesma forma, o compromissos dos governos para o processo e sua aceitação dos resultados é uma indicação clara do êxito.
Através de uma parceria maior entre cientistas e governos, o IPCC ampliou a consciência do público sobre mudanças climáticas, elevou o nível do debate científico e influenciou a agenda científica de muitas nações.”
O IAC critica alguns pontos da atuação do IPCC, principalmente a conclusão precipitada de que as geleiras do Himalaia se derreteriam até 2035. E entende que o painel precisa modernizar sua estrutura, trabalhar mais a complexidade de certos fenômenos, ter “mais transparência em seus procedimentos”, instituir um comitê executivo, limitar a um mandato os poderes dos seus executivos. De modo geral, entretanto, reconhece o valor dos quatro relatórios do IPCC.
Os “céticos” enfrentam também, no mesmo momento, uma mudança radical de postura de Bjorn Lamborg, autor do livro “O ambientalista cético”, que tanto furor causou há poucos anos. Surpreendentemente, ele declara agora que vai começar a enfrentar o problema das mudanças climáticas – em lugar de negá-las. Junto com oito economistas, ele passa a liderar um movimento que sugere forte investimento em energia alternativas, principalmente solar, eólica e de marés. Embora achem que lobbistas de empresas investidoras nessas energias “exageraram as mudanças climáticas”, esses analistas sugerem agora um investimento de US$100 bilhões nesse campo. Coincidência ou não, nesses mesmos dias o jornal britânico Sunday Telegraph publicou um pedido de desculpas ao presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, a quem acusara de ter “conflitos de interesse”, receber pagamentos de empresas interessadas na área de energias. Após auditoria da KGPM nas contas pessoais de Pachauri, o jornal afirmou que “não há nenhuma evidência de benefícios pessoais com as funções de consultor”.
Na direção contrária à dos “céticos”, o Instituto de Meio Ambiente da Suécia e o cientista Sivan Kartha publicaram trabalho de análise das intenções manifestadas na Convenção do Clima, em Copenhague, pelos países emissores. Segundo o parecer, se se concretizarem apenas as ações propostas ali pelos países emissores, até o fim do século a temperatura planetária se elevará em 3,5 graus Celsius, com “efeitos desastrosos para a produção agrícola, a disponibilidade de água e os ecossistemas em geral”, além de elevação do nível do mar e possível desaparecimento de ilhas no Pacífico (O Globo, 31/8). Esse relatório foi reforçado por outro, da Administração Nacional dos Oceanos e Atmosfera, dos Estados Unidos, segundo quem sete dos 10 indicadores de aquecimento global “estão em ascensão”.
Nada disso, entretanto, significa que se terá nestes próximos tempos mudança importante nos rumos dessa grave questão. As lógicas financeiras, que influenciam países e empresas, continuam a comandar o processo. De 4 a 9 de outubro, em Tianjin, na China, acontecerá mais uma reunião preparatória da assembléia geral da Convenção do Clima, prevista para novembro, em Cancun, no México. Mas não se espera que aconteça em Tianjin nenhum milagre. Nem mesmo em Cancun. O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tem reiterado que não se prevê nenhum acordo importante para Cancun – no máximo, a definição de um “roteiro” para a discussão seguinte, na África do Sul, em 2011. Talvez se defina – na linha do relatório do IAC – que não seja renovado em outubro o mandato de Rajendra Pachauri, que pretendia ficar mais quatro anos no posto.
O governo brasileiro, que não contesta os relatórios do IPCC, anunciou na semana passada que já tem R$200 milhões para combater efeitos de mudanças climáticas, com projetos de pesquisas e ações específicas, que serão prioritárias no Semi-Árido nordestino. Ali, como mostrou a recente Conferência sobre Desertificação, os problemas não cessam de avançar, com a contribuição do clima.
É importante, mas é pouco. Os eventos extremos entre nós têm-se intensificado – basta lembrar enchentes e desabamentos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, inundações em São Paulo, eventos terríveis no Nordeste, elevação inédita de temperaturas no Centro do país – com nível inacreditável de queimadas -, notícias de avanço do nível do mar e destruição de ocupações no litoral.
As informações são a cada dia mais contundentes, o ceticismo perde espaço. É preciso avançar rapidamente com políticas públicas. Só que nos faltam instrumentos eficazes. Ainda no começo desta semana, como lembrou este o jornal O Estado de S. Paulo (5/6), “os remédios para mudanças de microclimas são muito complexos”. E a situação de emergência, de extrema secura do ar na capital no mês de agosto, não pôde ser enfrentada com eficácia, porque “envolve toda a parte de ocupação do solo e também uma política de mobilidade. E São Paulo não tem um Plano B” (6/9). É grave.
*Washington Novaes é jornalista. Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 10 de setembro de 2010.
(Envolverde/Instituto Akatu)
Ação humana ameaça 65% da biodiversidade dos rios
Por Rogério Ferro, do Instituto Akatu
Poluição e construção excessiva de barragens e hidrelétricas colocam em risco a vida peixes e outros microorganismos aquáticos; situação deixa 80% da população mundial sujeita à escassez de água.
Os recursos hídricos e sua biodiversidade estão em crise no planeta, tudo por conta da ação humana. Hoje, 65% das espécies estão ameaçadas de extinção, principalmente por viverem em rios que sofrem diretamente os impactos das atividades econômicas e que estão sob a ameaça da poluição ali despejada, das grandes barragens e das práticas de pesca predatória. Mais: cerca de 3,4 bilhões de pessoas dos países pobres e emergentes estão sujeitas a escassez de água pelos mesmos motivos.
As informações são do estudo “Ameaças globais à segurança hídrica e à biodiversidade dos rios”, publicado na versão online da revista científica Nature, de 29 de setembro. O trabalho de pesquisa foi conduzido por especialistas da Universidade de Nova York e da Universidade de Wisconsin, além de sete outras instituições.
As ações para remediar a situação custariam aos países, juntos, cerca de R$ 850 bilhões por ano.
Segundo o estudo, a porção brasileira do rio Amazonas ainda está bem preservada, em comparação à nascente, situada no Peru. "A maior parte do Amazonas está sob risco moderado, porque há baixa ocupação humana na sua extensão e há grandes porções de florestas no entorno", relata o documento.
Em geral, “os rios mais ameaçados do país são justamente os que estão mais próximos dos grandes centros urbanos, nas regiões Sudeste e Nordeste.”
Entretanto, alguns rios atravessam diversas comunidades e isso significa que um ato isolado, pode causar impactos em todas as pessoas que de alguma forma se relacionam com ele.
Os resíduos poluentes jogados no rio Tietê, por exemplo, que atravessa o Estado de São Paulo e é o mais poluído do país, são o resultado de descartes operado pelos agentes da cidade, sejam moradores ou estabelecimentos comerciais, industriais ou agrícolas. Esgotos não tratados, efluentes químicos, todo tipo de lixo e até móveis, sem falar nos plásticos, que chegam ao rio irregular ou ilegalmente, são a causa da poluição que deteriora as condições da água e acaba com o oxigênio, causando a morte de organismos e dos peixes. Além de prejudicar a pesca artesanal, o rio, morto, torna-se um vetor de doenças graves para as comunidades banhadas por suas águas.
“O consumidor precisa tomar consciência que seu consumo individual tem impactos não só no meio ambiente, mas também na sociedade e na economia e, deve buscar maximizar os positivos e minimizar os negativos”, afirma Camila Mello, gerente de Mobilização Comunitária do Instituto Akatu.
Entre 1992 e 2008, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) gastou R$ 2,7 bilhões em ações de limpeza, despoluição e instalação de sistemas de tratamento de esgoto no rio Tietê.
“Considerando que esse mal poderia ser amenizado por meio do descarte correto dos resíduos, boa parte dessa verba poderia ter sido usada para melhorar a qualidade de serviços públicos como saúde, educação e segurança”, destaca Mello.
A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou 2010 como Ano Internacional da Biodiversidade.
(Envolverde/Instituto Akatu)
Poluição e construção excessiva de barragens e hidrelétricas colocam em risco a vida peixes e outros microorganismos aquáticos; situação deixa 80% da população mundial sujeita à escassez de água.
Os recursos hídricos e sua biodiversidade estão em crise no planeta, tudo por conta da ação humana. Hoje, 65% das espécies estão ameaçadas de extinção, principalmente por viverem em rios que sofrem diretamente os impactos das atividades econômicas e que estão sob a ameaça da poluição ali despejada, das grandes barragens e das práticas de pesca predatória. Mais: cerca de 3,4 bilhões de pessoas dos países pobres e emergentes estão sujeitas a escassez de água pelos mesmos motivos.
As informações são do estudo “Ameaças globais à segurança hídrica e à biodiversidade dos rios”, publicado na versão online da revista científica Nature, de 29 de setembro. O trabalho de pesquisa foi conduzido por especialistas da Universidade de Nova York e da Universidade de Wisconsin, além de sete outras instituições.
As ações para remediar a situação custariam aos países, juntos, cerca de R$ 850 bilhões por ano.
Segundo o estudo, a porção brasileira do rio Amazonas ainda está bem preservada, em comparação à nascente, situada no Peru. "A maior parte do Amazonas está sob risco moderado, porque há baixa ocupação humana na sua extensão e há grandes porções de florestas no entorno", relata o documento.
Em geral, “os rios mais ameaçados do país são justamente os que estão mais próximos dos grandes centros urbanos, nas regiões Sudeste e Nordeste.”
Entretanto, alguns rios atravessam diversas comunidades e isso significa que um ato isolado, pode causar impactos em todas as pessoas que de alguma forma se relacionam com ele.
Os resíduos poluentes jogados no rio Tietê, por exemplo, que atravessa o Estado de São Paulo e é o mais poluído do país, são o resultado de descartes operado pelos agentes da cidade, sejam moradores ou estabelecimentos comerciais, industriais ou agrícolas. Esgotos não tratados, efluentes químicos, todo tipo de lixo e até móveis, sem falar nos plásticos, que chegam ao rio irregular ou ilegalmente, são a causa da poluição que deteriora as condições da água e acaba com o oxigênio, causando a morte de organismos e dos peixes. Além de prejudicar a pesca artesanal, o rio, morto, torna-se um vetor de doenças graves para as comunidades banhadas por suas águas.
“O consumidor precisa tomar consciência que seu consumo individual tem impactos não só no meio ambiente, mas também na sociedade e na economia e, deve buscar maximizar os positivos e minimizar os negativos”, afirma Camila Mello, gerente de Mobilização Comunitária do Instituto Akatu.
Entre 1992 e 2008, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) gastou R$ 2,7 bilhões em ações de limpeza, despoluição e instalação de sistemas de tratamento de esgoto no rio Tietê.
“Considerando que esse mal poderia ser amenizado por meio do descarte correto dos resíduos, boa parte dessa verba poderia ter sido usada para melhorar a qualidade de serviços públicos como saúde, educação e segurança”, destaca Mello.
A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou 2010 como Ano Internacional da Biodiversidade.
(Envolverde/Instituto Akatu)
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