Por Lucia Leão, do MMA
O mundo perdeu 19% dos seus recifes de coral desde 1950 e outros 15% estão seriamente ameaçados de desaparecer ao longo das próximas duas décadas. Guardião dos únicos ambientes recifais do Oceano Atlântico Sul, o Brasil tem grande responsabilidade de proteção e uso sustentável dessas áreas. Há sete anos o país monitora o que acontece com os recifes da sua plataforma continental. As constatações são preocupantes: em muitos deles os corais padecem de doenças e infecções, sufocados por poluição e sedimentos. Em outros, a ameaça é a proliferação de espécies invasoras, como o coral Tubastrea.
Essas são algumas informações da edição de 2008 da "Status dos Recifes de Coral do Mundo", publicação bianual da Rede Mundial de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN, na sigla em inglês), que reúne informações sobre a situação de 96 países. Este foi o primeiro ano que o Brasil mereceu um capítulo especial. A Secretaria de Biodiversidade e Florestas preparou um sumário em língua portuguesa da publicação, que foi lançada no último dia 22, durante a Semana da Mata Atlântica, realizada em São Paulo.
Com um dos maiores adensamentos populacionais costeiros do mundo, o Brasil coloca os seus recifes de coral assim como os outros ecossistemas costeiros - sob forte pressão de uso. O Programa Nacional de Monitoramento de Recifes de Coral, coordenado pela Universidade Federal de Recife e apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente, constatou que os bancos de coral localizados a menos de cinco quilômetros da costa, estão em pior estado, com menos corais saudáveis e mais algas do que os localizados em alto mar. Além da poluição por lançamento de esgotos, as águas marinhas também recebem os sedimentos lançados junto com as águas de rios cujas margens foram desmatadas.
A par dos impactos negativos, o monitoramento constatou também os benefícios proporcionados aos recifes de coral protegidos por unidades de conservação, especialmente pelas ações de combate à pesca predatória. A incidência de garoupas grandes, por exemplo, está praticamente restrita às 13 áreas de conservação estaduais, federais ou municipais, seja de proteção integral ou de uso sustentável.
A ampliação de áreas protegidas no litoral brasileiro é uma meta do governo que, como signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica e da Convenção Ramsar de Zonas Úmidas, assumiu o compromisso com a conservação dos recifes de corais e com a ampliação de áreas protegidas de acordo com as prioridades identificadas no Atlas de Recife de Coral nas Unidades de Conservação do Brasil.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Amazônia exige fim da lógica da exploração
Por Paula Scheidt, do CarbonoBrasil
A geógrafa Bertha Becker defende mudanças na região, marcada pela exportação das riquezas sem deixar benefícios locais, e critica o "caótico" quadro institucional do governo brasileiro que aponta como repressor do desenvolvimento.
Com 35 anos de estudos dedicados a Amazônia e agora com o “amazônico” desafio de fazer o macrozoneamento da região, a geógrafa de 78 anos, Bertha Becker, não perde o humor para descrever o que a espera: “Se alguém tiver uma sugestão, por favor me avise”, pedido que foi feito na Conferência de Abertura do XIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano Regional – ANPUR.
“Fazer o planejamento da Amazônia inteira não dá. É preciso planejar de acordo com questões menores, entrar pelo território, conhecer a história, as capacidades e o nível de organização das populações”, explica Bertha, que é pós-doutora pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e atualmente atua professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Bertha ressalta que a história da Amazônia é muito diferente da brasileira, estando mais associada ao Caribe, uma vez que dominam ali a lógica das expedições e piratarias. Em um ciclo de falta de integração por causa da ausência do desenvolvimento que não ocorre em função da não integração, a história da região é a das bolhas: da exploração da borracha, das drogas e atualmente da madeira e energia.
“Todos os recursos são mandados para fora sem agregação de valor, por isso bolhas, porque não sobra nada para a região e isso é histórico, por isso eu falei da pirataria. Hoje em dia tira a madeira e coloca o pasto, tira a energia das hidrelétricas e manda para o Sudeste. No passado era a borracha e a droga que tiravam e mandavam para a Europa. Sempre foi assim, então tem que mudar isso”, alerta.
Outro ponto que dificulta o desenvolvimento da região apontado por Bertha é a trajetória histórica de construção de instituições na qual o Brasil está preso. A geógrafa adverte que é preciso ter regras justas no quadro institucional e trocar as muitas incertezas por certezas para as populações. “Não dá para ter o Minc brigando com o Stephanes na televisão. O quadro institucional é um caos e é um quadro que reprime o desenvolvimento, em uma trajetória de dependência”.
Para enfrentar o desafio de planejar o desenvolvimento da Amazônia, Bertha afirma que irá apostar no principio da precaução para lidar tanto com as falhas institucionais quanto com ao pedido de pensar a região como um todo. Segundo Bertha, a ciência não consegue hoje acompanhar as transformações impostas pela velocidade do “online” e, quando não se consegue prever nem medir, é preciso usar o princípio da precaução.
“Ele busca certeza no meio da incerteza e deve ser usado quando é preciso agir sem esperar pela certeza científica. Quanto vale as florestas em pé, por exemplo? Ou como medir o aquecimento global?”, cita. Neste caso, é preciso recorrer a outros conhecimentos que não os científicos e Bertha destaca a importância de ouvir a sociedade e, principalmente, as comunidades tradicionais.
Contudo ele ressalta: nada de audiências públicas, o ideal é formar pequenos grupos de pessoas que conhecem profundamente a realidade local sem serem cientistas, como a população das florestas, agricultores, etc. “Nas Audiências públicas há muita manipulação e, muitas vezes, as pessoas não entendem.”
A geógrafa Bertha Becker defende mudanças na região, marcada pela exportação das riquezas sem deixar benefícios locais, e critica o "caótico" quadro institucional do governo brasileiro que aponta como repressor do desenvolvimento.
Com 35 anos de estudos dedicados a Amazônia e agora com o “amazônico” desafio de fazer o macrozoneamento da região, a geógrafa de 78 anos, Bertha Becker, não perde o humor para descrever o que a espera: “Se alguém tiver uma sugestão, por favor me avise”, pedido que foi feito na Conferência de Abertura do XIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano Regional – ANPUR.
“Fazer o planejamento da Amazônia inteira não dá. É preciso planejar de acordo com questões menores, entrar pelo território, conhecer a história, as capacidades e o nível de organização das populações”, explica Bertha, que é pós-doutora pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e atualmente atua professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Bertha ressalta que a história da Amazônia é muito diferente da brasileira, estando mais associada ao Caribe, uma vez que dominam ali a lógica das expedições e piratarias. Em um ciclo de falta de integração por causa da ausência do desenvolvimento que não ocorre em função da não integração, a história da região é a das bolhas: da exploração da borracha, das drogas e atualmente da madeira e energia.
“Todos os recursos são mandados para fora sem agregação de valor, por isso bolhas, porque não sobra nada para a região e isso é histórico, por isso eu falei da pirataria. Hoje em dia tira a madeira e coloca o pasto, tira a energia das hidrelétricas e manda para o Sudeste. No passado era a borracha e a droga que tiravam e mandavam para a Europa. Sempre foi assim, então tem que mudar isso”, alerta.
Outro ponto que dificulta o desenvolvimento da região apontado por Bertha é a trajetória histórica de construção de instituições na qual o Brasil está preso. A geógrafa adverte que é preciso ter regras justas no quadro institucional e trocar as muitas incertezas por certezas para as populações. “Não dá para ter o Minc brigando com o Stephanes na televisão. O quadro institucional é um caos e é um quadro que reprime o desenvolvimento, em uma trajetória de dependência”.
Para enfrentar o desafio de planejar o desenvolvimento da Amazônia, Bertha afirma que irá apostar no principio da precaução para lidar tanto com as falhas institucionais quanto com ao pedido de pensar a região como um todo. Segundo Bertha, a ciência não consegue hoje acompanhar as transformações impostas pela velocidade do “online” e, quando não se consegue prever nem medir, é preciso usar o princípio da precaução.
“Ele busca certeza no meio da incerteza e deve ser usado quando é preciso agir sem esperar pela certeza científica. Quanto vale as florestas em pé, por exemplo? Ou como medir o aquecimento global?”, cita. Neste caso, é preciso recorrer a outros conhecimentos que não os científicos e Bertha destaca a importância de ouvir a sociedade e, principalmente, as comunidades tradicionais.
Contudo ele ressalta: nada de audiências públicas, o ideal é formar pequenos grupos de pessoas que conhecem profundamente a realidade local sem serem cientistas, como a população das florestas, agricultores, etc. “Nas Audiências públicas há muita manipulação e, muitas vezes, as pessoas não entendem.”
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