quinta-feira, 23 de abril de 2009

Poluição causará 25 mil mortes em SP até 2040

Por Vivian Lobato, do Aprendiz




Todos os anos 3,5 mil pessoas morrem na cidade de São Paulo (SP) devido à má qualidade do ar. Entre 5% e 10% das mortes consideradas por “causas naturais” na Grande São Paulo são resultados de danos causados pela poluição atmosférica à saúde da população. Até 2040, cerca de 25 mil mortes estarão relacionadas à poluição do ar da região metropolitana de São Paulo.

Os dados foram apresentados pelo professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Poluição da USP, Paulo Saldiva, durante o seminário "Qualidade do Ar e Políticas Públicas Socioambientais nas Metrópoles Brasileiras", realizado no Instituto de Estudos Avançados (IEA). O evento integra um ciclo de debates sobre políticas públicas ambientais, promovido pelo Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais, que realizará outras palestras nos dias 29 de abril e 6 de maio.

Além do professor, o seminário contou com a participação de outros dois pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP, João Vicente Assunção e Helena Ribeiro.

Para os pesquisadores a frota automotiva é a verdadeira vilã do problema de poluição do ar. “A poluição industrial em São Paulo está controlada desde a década de 1980 através de filtros. Hoje, só a capital paulista tem quase 6 milhões de veículos (21% da frota nacional). Mais 1 milhão de carros e 150 mil caminhões ainda entram na cidade todo dia”, alertou Helena.

De acordo com Saldiva, a qualidade do ar as ações da Secretaria do Meio Ambiente conseguem controlar, mas não resolver, a situação. “As medidas compensaram o aumento da frota, que cresce a cada ano 10%. Mas ainda é pouco para solucionar o problema”, destacou.

Soluções

“O primeiro passo seria melhorar o que existe. A ideia que o paulistano não usa transporte público não é verdade. Indício disso é a valorização imobiliária de regiões perto do metrô”, explicou Saldiva.

A professora Helena também lembrou que em 2008 aconteceu a primeira inversão na curva de aumento do uso de carro e transporte coletivo. “O paulistano utiliza transportes públicos para se locomover, mas para aumentar esses números precisamos exigir mais qualidade e eficiência”.

Para o professor Ribeiro, seria necessário melhorar as condições de mobilidade urbana e regularizar os compostos químicos liberados para a atmosfera assumindo as metas para cortar os poluentes.

“A questão do carro é diferente, não depende só da inspeção veicular. Muitas medidas já foram tomadas, mas o grande problema é a antiga frota que ainda circula e emite muitos poluentes”, apontou. “Implantar muitas ciclovias na capital como na Marginal e Radial Leste também seria uma boa alternativa”, completou.

“Investir em transporte público, especialmente no metrô”, destacou Vicente. O professor também ressaltou o tratamento dado aos pedestres. “O pedestre do Brasil é de terceira categoria, não existe a prioridade para o pedestre, infelizmente vivemos uma cultura do carro”.

De acordo com Saldiva, para diminuir a poluição produzida pelos carros, é necessário melhorar a locomoção dos pedestres, assim como um lugar para amarrar as bicicletas e tomar banho. “As motos não são uma boa saída, pois ainda não estão com tecnologia ideal, poluindo bastante. O rodízio funcionaria se durante o período fossem tomadas medidas estruturais para redução da poluição, pois ele tira 20% dos carros, mas a frota aumenta 10% a cada ano”, finalizou.

Poluição do ar e saúde

A poluição atmosférica causa efeitos à saúde como problemas oftálmicos, doenças dermatológicas, problemas gastrointestinais, problemas cardiovasculares, doenças pulmonares, alguns tipos de câncer, efeitos sobre o sistema nervoso e algumas doenças infecciosas.

O nível de poluição atmosférica é determinado pela quantificação das substâncias poluentes presentes no ar. O grupo de poluentes considerados como indicadores mais abrangentes da qualidade do ar é composto por monóxido de carbono, dióxido de enxofre, material particulado e ozônio, mais o dióxido de nitrogênio. A razão da escolha desses parâmetros como indicadores de qualidade do ar está ligada a sua maior frequência de ocorrência e aos efeitos adversos que causa ao meio ambiente.

Ciclo de seminários

O ciclo de palestras do IEA sobre políticas públicas ambientais continua no dia 29 de abril com o tema "Meio Ambiente, Desigualdades e Representações Sociais - Uma Análise Comparativa entre São Paulo e Paris". Por fim, o terceiro seminário do ciclo tratará da "Governança da Água no Brasil" no dia 6 de maio.

Os interessados em participar do ciclo devem se inscrever com mensagem para ineshita@usp.br. Os seminários são transmitidos online pelo site http://www.iea.usp.br/aovivo. O IEA fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, Cidade Universitária, São Paulo (SP).

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