Houve uma catástrofe. De repente, as três maiores redes de comunicação do Brasil se mobilizaram e começou um grande mutirão de arrecadação de alimentos, água e roupas.
Tragédia houve, mas todas e todos repórteres entram no ar, ao vivo ou não, sorridentes entrevistando pessoas igualmente sorridentes (êpa, não estamos falando de uma tragédia de um povo, com famílias inteiras mortas? Ah, tá, continuemos) dizendo o que estão doando para jubilo dos desalojados e desabrigados.
De repente, alguém entre ao vivo e entrevista um cidadão que diz para as pessoas pararem de mandar mantimentos porque já não lugar onde guardar e, pior, não estão conseguindo distribuir os mantimentos porque não há vias de acesso para alcançar aqueles que estão, literalmente, isolados.
Pano rápido, a repórter para não perder a alegria e talvez o emprego continua: "apesar desse problema, as contribuições não páram de chegar. Já são mais de não sei quantas toneladas...."
O quê? Como assim não estão conseguindo distribuir? Como não estão conseguindo guardar?
A situação nos revela o quanto não nos preparamos para eventos extremos como este.
Se houvesse realmente organização, o próprio Poder Público, através da defesa civil ou de outro órgão público responsável por isso, poderia estar canalizando os esforços nas mais variadas demandas que se apresentam.
O caso não é só de comida, é de casas perdidas, é de falta d'água, de falta de energia elétrica, é de recolhimento de lixo, de limpeza de bueiros e recuperação de saneamento básico, é recuperação de vias.
Alguém já disse que se levará algo em torno de dois anos para recuperar as cidades atingidas. Ou seja, o Poder Público não tem a velocidade e dinheiro suficiente que aquelas pessoas mereceriam para terem de volta as suas vidas.
Apenas alimentos em larga quantidade não resolve o problema daquele simpático povo, que é tão sereno, que até seu desespero é algo comedido e resignado.
É preciso pensar meios e mecanismos que se sobreponham ao voluntarismo desorganizado. É preciso haver uma liderança institucional para que essas tragédias inesperadas, mas previsíveis, sejam amenizadas pela efetiva mão do Poder Público.
Mas, vamos combinar, é preciso dizer para os meios de comunicação televisivo que tratem tragédia como tragédia, respeitando a dor, estimulando a solidariedade, mas tirando o sorriso da cara dos repórteres que, definitivamente, não combina com o momento.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
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