quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Pelo Direito de usar meu O'
Nasci em uma família cujas origens ainda não conseguimos esclarecer: seria francesa? seria portuguesa?
Pelo menos um historiador paraense diz que a família O' de Almeida é originária de Salvador, Bahia.
O fato é que crescemos tendo que esclarecer e explicar o O' de nosso nome composto O'de Almeida.
Outro dia descobrimos um ramo da família com uma escrita diferente: eles são "do O'de Almeida", com raízes em Belém. Estaríamos nós do ramo de Antônio O' de Almeida a grafar incorretamente o nome?
Isto será trabalho para quando o tempo deste seja o mesmo do lazer.
Aliás, em Belém, a família O' de Almeida registra o nome de duas vias e uma praça: a Rua O' de Almeida, em homenagem a Antônio O'de Almeida, não o pai, mas seu filho, que foi intendente (prefeito) de Belém. A sua irmã Teodósia se casou com Lauro Sodré, duas vezes governador do Pará e várias senador. Os filhos de Lauro Sodré fundaram o Botafogo Football Club, mas não ficaram conhecidos pelos seus nomes O'de Almeida, mas pelo Sodré. Aliás, em quase todos os registros históricos no Rio, onde moraram, e do Botafogo relacionados à Emmanuel e Benjamin(o Mimi, grande artilheiro) se intitulam "de Almeida Sodré" e não "O'de Almeida Sodré". A passagem Vereador Emanoel O'de Almeida e a praça Emanoel O'de Almeida são em homenagem a meu pai (1930-1996), fotógrafo, jornalista e vereador (de 1976 a 1996).
Mas, voltando ao assunto, desde que me entendi por gente percebi que temos problemas com o O'. Parece incrível, mas o O' é como se fosse invisível ou uma grande oportunidade para as pessoas demonstrarem como são atenciosas e espertas para perceberem que o O' é uma abreviação. Então, tomem a me chamar de Mauro de Almeida, ou Mauro Oliveira de Almeida. Chegam até a dizer Mauro "O' de Oliveira" (é muito perspicaz o ser humano). Alguns primos resolveram capitular, simplesmente excluíram o O' da sua vida. Mas, eu não.
Como hoje em dia sou um homem público, em qualquer evento que me chamam para falar ou palestrar, 99% das vezes meu O' é excluído. Vai daí que começo sempre lembrando que a única herança que meu pai me deixou foi meu nome e que por isso tenho o dever de lutar por minha própria existência. Normalmente, isso serve para quebrar o gelo na minha fala, já que as pessoas recebem como uma coisa engraçada. Mas, elas não sabem o que é passar décadas corrigindo o nome. Tentei ver se a numerologia me socorria, quem sabe mudando a estrutura, o nome se tornasse até mais forte. Nada. Forte mesmo é o O' de Almeida, numerologicamente falando.
O pior é que, agora, na ditadura digital, o apóstrofo (sim, reconheço que essa parte é difícil, afinal o apóstrofo, segundo o Houaiss, é um sinal diacrítico freq. em forma de vírgula voltada para a esquerda, mas tb. reto, que, alceado a um nível superior ao das letras minúsculas, serve para indicar a supressão de letra(s) e som(ns) - como, p.ex., mãe-d'água, Vozes d'África etc.- não é o que podemos chamar de uma coisa comum e também não parece estar cumprindo a sua função de acepção suprimindo alguma parte do nome que viria depois) não é reconhecido como um caractere válido. Ou seja, já era meu O' na identidade, carteira funcional, título de eleitor, passaporte. Mas, não me rendo.
Fico pensando naquelas pessoas que tem nomes bem mais complicados, como meu amigo Stoessel, ou o Wandenkolk Pasteur, deputado federal pelo Pará (como será que ele pede voto para o interiorano humilde?).
Mas, tal qual a Scarlett O'Hara (olha o apóstrofo aí de novo) e suas frases de efeito em "E o vento levou", enquanto vida tiver "jamais passarei fome outra vez". Bem, isso espero também, mas "jamais deixarei de lutar pelo direito de usar o meu O'", pois "amanhã será outro dia" e certamente terei que lutar pela sua existência, pois, uma coisa é certa, sem meu O' eu não sou ninguém.
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