segunda-feira, 22 de junho de 2009

Falta de água ameaça meio planeta

Por Julio Godoy*




Roma, 22 de junho (Terramérica).- Se os governantes do mundo não chegarem a um acordo imediato para administrar as fontes hídricas, metade da população da Terra não disporá de água suficiente para viver até 2030, disse ao Terramérica o cientista Jonathan Baillie. Já há 2,8 bilhões de pessoas que sofrem escassez de água, acrescentou o diretor de Conservação Ambiental da Sociedade Zoológica de Londres, que participou do fórum da Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental (Globe), realizado nos dias 12 e 13 deste mês, em Roma.

O fórum, que reuniu legisladores, estudiosos e ambientalistas, foi um encontro preparatório para a cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) que acontecerá na cidade italiana de L’Aquila, em julho. Seu tema central foi a mudança climática.

TERRAMÉRICA: Nos debates sobre mudança climática e degradação ambiental não se menciona a água. Qual a sua avaliação do estado da água doce no mundo?

JONATHAN BAILLIE: Dos ecossistemas mundiais, 60% estão degradados ou são usados de modo insustentável. O uso de dois serviços ambientais em particular, as reservas pesqueiras e a água doce, superam longamente os limites, inclusive com o consumo atual. Há evidências de que 25% do uso da água doce mundial excede a capacidade de fornecimento no longo prazo, e agora se satisfaz por transposição ou bombeamento excessivo de águas subterrâneas, como as camadas freáticas. Entre 15% e 35% da extração de água para irrigação supera a capacidade dos fornecimentos, e, portanto, é insustentável.

TERRAMÉRICA: Quais são as causas deste uso da água doce?

JB: A superpopulação e o consumo excessivo. De 1960 até agora, a população mundial cresceu mais do que o dobro e a economia mundial cresceu seis vezes. Sem uma política de desenvolvimento coerente, até 2050 haverá mais três milhões de pessoas no planeta, que criarão pressões sem precedentes sobre o mundo natural.

TERRAMÉRICA: Qual a relação entre o excesso de consumo e a capacidade da natureza para se regenerar?

JB: O Informe Planeta Vivo, do Fundo Mundial para a Natureza, calcula que no final da década de 80 começamos a usar recursos em um ritmo que superou a capacidade de regeneração natural. Estima-se que, até 2030, estaremos usando recursos que somente poderiam se regenerar se tivéssemos dois planetas.

TERRAMÉRICA: O crescimento agrícola é outro fator do elevado consumo hídrico?

JB: Sim. A expansão agrícola necessária para abastecer uma população crescente é a principal causa individual de degradação e perda de ecossistemas. Um exemplo é o ocorrido entre 1975 e 2003 em Santa Cruz, nas férteis terras baixas do oriente da Bolívia, muito adequadas para a agricultura. Em fotografias feitas de satélites, em 1975, a paisagem florestal era uma extensão verde, densa e contínua, que chegava até o Rio Grande ou Guapay. Em 1986, já havia estradas ligando a área com centros povoados, facilitando o deslocamento de muita população. Um grande esforço de desenvolvimento agrícola (o Projeto Terras Baixas) levou a um grande desmatamento, florestas foram cortadas para obtenção de terras cultiváveis e de pastagem. Em 2003, as fotos via satélite mostravam que quase toda a região estava transformada em plantações e pastos.

TERRAMÉRICA: As áreas costeiras marinhas também correm o risco de esgotamento, devido, por exemplo, à aquicultura.

JB: De fato, as zonas costeiras são devastadas pelos tanques e criadouros, pela extração de madeira e por represas. Há evidências de que, desde a década de 80, perdeu-se 35% dos mangues. Os ecossistemas costeiros também sofrem com o desvio dos cursos dos rios, menor contribuição de sedimentos aluviais, alta carga de nitrogênio e invasões de espécies. As represas reduzem entre 25% e 30% o fluxo de sedimentos para as zonas costeiras, causando erosão, redução dos deltas e danos à pesca.

TERRAMÉRICA: Mas a agricultura e a aquicultura são vitais para centenas de milhares de pessoas em todo o mundo.

JB: Esse é o paradoxo do desenvolvimento. Seguindo este caminho, a população mundial está consumindo recursos básicos com a água. No ritmo atual, até 2030 metade da população mundial poderá viver com graves problemas hídricos. Não podemos nos dar a este luxo. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas não podem ser cumpridos se não garantirmos um adequado fornecimento de água, o que somente pode ser alcançado com o manejo dos recursos e dos hábitat de água doce.

TERRAMÉRICA: Quantas pessoas já são afetadas pela falta de água?

JB: Já é aguda no Oriente Médio e no norte da África. Aproximadamente 2,8 bilhões de pessoas vivem com escassez de água. Se não forem adotadas políticas adequadas, até 2030 haverá mais 1,1 bilhão com o mesmo problema. Isto é, quase metade da população mundial da época poderá enfrentar uma angustiante falta de água, incluindo até 80% dos habitantes do Brasil, China, Índia e Rússia.

* O autor é correspondente da IPS.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ambiente: O tempo para mitigar a mudança climática está acabando

Por Julio Godoy, da IPS




Roma, 15/06/2009 – Novas pesquisas cientificas sugerem que a mudança climática ocorre a um ritmo superior ao previsto, alertaram especialistas sexta-feira e sábado na capital italiana no fórum da Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental (Globe). “Estamos ficando sem tempo”, disse à IPS Ashok Khosla, presidente da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Khosla foi um dos participantes do fórum, que reuniu cerca de cem legisladores interessados em problemas ambientais dos 13 países que mais contaminam no mundo, bem como numerosos cientistas e especialistas.

Estes países pertencem ao Grupo dos Oito mais poderosos: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia, bem como o grupo das nações em desenvolvimento que mais emitem gases causadores do efeito estufa, que são Brasil, China, Índia, México e África do Sul. A reunião da Globe foi preparatória para a cúpula do G-8 na Itália, entre 8 e 10 de julho, e buscou pressionar os governos para que discutam os termos do convenio que substituirá o Protocolo de Kyoto que expira em 2012.

Katherine Richardson, uma das principais biólogas marinhas que pesquisam o efeito da mudança climática sobre os oceanos, disse à IPS que “os níveis do mar estão aumentando 50% mais rápido do que o esperado pelo Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática” (IPCC). “Se a humanidade não frear a mudança climática no futuro imediato, o nível do mar aumentará pelo menos um metro ate 2010”, agravando as catastróficas consequências já prognosticadas para os assentamentos humanos ao longo das costas, especialmente no mundo em desenvolvimento, afirmou a bióloga.

A acidez dos oceanos também aumenta rapidamente, destacou Katherine. Por isso, “se nada se fizer para deter o aquecimento global, até 2065 nenhuma região dos oceanos terá corais”, ressaltou a especialista. Esta degradação oceânica foi provocada pelo recente aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa. “Nos últimos três ou quatro anos, as emissões estiveram acima das projeções estimadas. Desde 1990, aumentaram 17%”, acrescentou Katherine. Pelo Protocolo de Kyoto, os países industrializados acordaram reduzir em 5,2% suas emissões coletivas desses gases, em relação aos níveis de 1990.

O aumento de emissões é dramático porque “as sociedades e os ecossistemas são altamente vulneráveis até mesmo a níveis modestos de mudança climática. Será muito difícil para as comunidades contemporâneas enfrentar um aumento de dois graus na temperatura”, enfatizou Katherine. Por sua vez, Khosla disse que além desses dois graus, não se pode manter a concentração atmosférica de dióxido de carbono em menos de 400 partes por milhão. “Mas, já estamos em 387 partes por milhão. Praticamente não tempos tempo para deter este crescimento das emissões de gases do efeito estufa”.

Para o australiano Ian Dunlop, economista e especialista em energia, apesar do intenso debate sobre como abordar a mudança climática, “até agora praticamente não se chegou a nada. Desde 1972, quando o Clube de Roma publicou seu estudo sobre os ‘Limites do crescimento’ e apresentou o problema do crescimento econômico insustentável, a humanidade demonstra ser incapaz de aceitar que o fator mais importante para sua própria sobrevivência é a preservação de uma biosfera adequada para ser habitada por humanos”, disse Dunlop à IPS.

Dunlop chamou a atenção para o fato de que, devido à atual crise econômica mundial, as nações industrializadas tentam dar um novo impulso ao consumo internacional. “Os governos estão aplicando medidas econômicas concebidas há 80 anos para estimular as velhas indústrias e salvar bancos, e ao fazerem isso estão disparando seus déficits e suas dívidas e, portanto, deslocando seus investimentos em políticas ambientais”, afirmou o economista. Agora, de acordo com Dunlop, o desafio consiste em os cidadãos cobrarem uma mudança dos mundos político e corporativo, e enfrentarem o aquecimento global e a injustiça social.

De outro modo, o novo modelo econômico que integra soluções exaustivas para as interações entre mudança climática, injustiça social e crise econômica, continuará bloqueado por ações governamentais e pelo lobby das indústrias. Ao mesmo tempo, os mais pobres do mundo são as principais vitimas da degradação ambiental associada com a mudança climática e o esgotamento dos recursos naturais que exerce o modelo econômico atual. “Entre três bilhões e quatro bilhões de pessoas estão sobrevivendo em uma paisagem de pobreza, vulnerabilidade e degradação ambiental”, disse Khosla.

Segundo o presidente da UICN, as novas políticas devem aspirar melhoria no desenvolvimento humano nos países mais pobres, para solucionar o que chamou de “paradoxo da mudança climática”. O mundo, “até 2050, terá vários milhões de toneladas extras de emissões de carbono, a menos que as populações mais pobres tenham acesso a níveis superiores de serviços de energia”, acrescentou. Isto só é possível com “desenvolvimento humano sustentável agora, e para todos os habitantes do mundo”, enfatizou.

O economista Colin Bradford, do Instituto Brookings (EUA), também esteve em Roma, onde exortou os governos a “recuperarem as economias de correntes neoliberais”. Após a chegada ao poder da Margareth Thatcher ao poder (1970-1990) na Grã-Bretanha e de Ronald Reagan (1981-1989) nos Estados Unidos, “a economia deixou de ser uma ciência social e se tornou prisioneira dos ideólogos” do livre mercado a qualquer preço, disse Bradford. A crença destes ideólogos de que o livre comércio corrigiria a si mesmo e fixaria adequadamente os preços demonstrou ser errada, disse o economista à IPS.

E isso teve impacto sobre a mudança climática. Por exemplo, com o preço tão baixo do petróleo, este se torna mais competitivo do que as fontes de energia baixas em carbono, afirmou Bradford. Os cientistas coincidem que a queima de combustíveis fósseis produz grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, o que constitui a principal causa do aquecimento global e da mudança climática. Os governos devem se libertar da prisão dos mentores do neoliberalismo e “começar a confiar em suas próprias inteligências e análises para lidar manejarem corretamente a crise econômica, ambiental e social”, disse Bradford. IPS/Envolverde

Indicadores de crescimento não medem qualidade de vida

Por Denise Ribeiro, para a Envolverde




Quando os desastres ecológicos colaboram para o crescimento do PIB é sinal de que há algo de errado com o modelo de desenvolvimento.

“Crescer por crescer é a filosofia do câncer”. A frase, dita pelo economista Ladislau Dowbor, professor da PUC, que a tomou emprestado de um banner estudantil, ilustra o quanto os números escondidos por trás do PIB podem forjar falsas realidades. Num mundo em que dois terços da população – cerca de 4 bilhões de pessoas – não têm voz e que desastres ecológicos colaboram para o incremento do PIB porque geram fluxo de caixa, está claro que há algo de muito errado com os atuais indicadores de crescimento.

A urgência em mudar esses paradigmas e em entender que qualidade de vida tem pouco a ver com acúmulo de riquezas pautou as discussões do painel Redefinindo Riqueza e Pobreza numa Nova Economia Global, realizado no terceiro dia da Conferência Ethos 2009. Além de Dowbor, participaram do debate Marcio Pochmann, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-Ipea e Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo. A moderadora foi Anamaria Schindler, do Instituto Arapyaú.

Ladislau afirmou que, desde a “queda do muro de Wall Street”, um choque de realidade para o capitalismo, a nova economia deixou de ser coisa de sonhador. “O que temos feito, além de discutir o preço do coquetel de remédios, pelas 25 milhões de pessoas que já morreram de Aids? Ou pelos 10 milhões de crianças que morrem todos os anos?”.

Para o professor, não há lógica em medir o PIB pela intensidade do fluxo de recursos. Não são mensurados, por exemplo, os ganhos sociais e a economia de recursos, gerados por programas que reduzem a mortalidade e as internações hospitalares: “Quando isso acontece, o PIB cai, porque é péssimo para as empresas que fazem comércio com a saúde”, explica.

Outras coisas que o PIB não mede: o tempo que o paulistano gasta nos congestionamentos, a redução de estoques de minérios, a externalização dos custos (as filas dos bancos, por exemplo) que rentabilizam as empresas mas punem o consumidor.

Todos os participantes concordam que é chegada a hora de a economia gerar mais impactos positivos para a soma da sociedade. Marcio Pochmann, do Ipea, alerta para a enorme resistência de ordem política que essa mudança de paradigmas pode provocar. “Não é por falta de indicadores que o cálculo do PIB permanece inalterado. Nem há razões técnicas para que as pessoas morram de fome. Há interesses em jogo que impedem as mudanças”, argumenta. Segundo ele, vivemos uma crise de gestão internacional, com organismos como a ONU e o FMI incapazes de promover esse salto transformador e unificador de propósitos.

Para Pochmann, não estamos sendo capazes de nos organizar em torno de algo que nos congregue, nesse momento de crise do pensamento neoliberal. A inclusão dos mais pobres se dará pela apropriação da educação contínua. A construção de um novo modelo econômico passa, necessariamente, pela articulação entre os saberes da sociedade (universidades, associações de bairro, pesquisadores, sindicatos e outras organizações).

Um bom começo seria cada cidade se organizar em busca de mais qualidade de vida. Nesse quesito, o Movimento Nossa São Paulo, capitaneado por Oded Grajew, é a ponta de lança e o desencadeador de um modelo que já inspira duas dezenas de outras cidades. (Envolverde)

Os blogs e os debates anônimos

Por Mauro O'de Almeida


A internet tem sido um importante instrumento de quebras de paradigmas sociais e políticos.
Pela internet tem sido construídas articulações que já redundaram em manifestações de rua, protestos contra sistemas políticos etc.
Uma coisa que me tem chamado muita atenção são os debates anônimos nos blogs.
Deus nos fez mente anônima. Se não nos expressarmos por nossa boca, nossas idéias ficam apenas para nós. Nossas observações sobre quem é feio ou bonito, chato ou legal, sincero ou inconfiável, amores platônicos, são nossos maiores segredos.
Há quem diga que se descobrissem o que estamos pensando, os seres humanos estariam verdadeiramente perdidos.
Pois será que Deus esperava por essa: as pessoas estão conseguindo expressar o que pensam sem revelar quem são.
É um fenômeno típico de comentários de blog's. Os comentaristas falam o que querem, expressão sem nenhum receio as suas opiniões e fica por isso mesmo.
Não fosse alguns blogueiros fazerem uma espécie de moderação (que muitos anônimos consideram censura) o ambiente dos blog's seriam terra sem lei.
Os mais entendidos em internet dizem que é possível a identificação do anônimo por meio da pesquisa do IP, que é uma espécie de identidade do internauta, mas o fato é que a coisa parece ser tão complicada que não tenho visto ninguém identificar um comentariata anônimo, até porque quem está na frente do computador pode não ser o dono da identidade. Por exemplo, agora você poderia estar lendo algo que meu filho escreveu.
O fato é que alguns blogs já foram extintos por excesso de xingamento, como foi o caso do Blog do Mino Carta.
Outros vêm moderando fortemente os comentários, como é o caso do blog do jornalista Juvêncio Arruda, o 5ª Emenda.
Ainda não sei exatamente se o debate anônimo é de todo ruim. O xingamento sim, esse é péssimo.
Mas, numa sociedade como a paraense, e quiçá a brasileira, onde todos sempre tiveram muito medo de expressar as suas opiniões, sobretudo com medo de serem perseguidos por aparelhos políticos e até empresas jornalísticas, pode ser que a livre expressão anônimo seja só um passo num processo mais amplo de liberação de idéias não-anônimas no ambiente virtual e, principalmente, no ambiente real.